A Cooperativa Agrícola de Sintra, fundada em 1952, tem sido uma aliada fundamental para os agricultores locais ao longo das décadas. Inicialmente criada para permitir a compra de fatores de produção a um custo mais acessível, a Cooperativa expandiu-se e diversificou os seus serviços, oferecendo desde produtos fitofarmacêuticos até assistência técnica e formação. Com seis lojas e cerca de 10 mil associados e clientes, o Presidente da Cooperativa, Jorge Rafael falou sobre as prioridades da mesma, desde a consolidação dos serviços existentes até a modernização gradual, sempre com foco em melhor servir os associados e preservar a sustentabilidade agrícola, num concelho cada vez mais urbanizado.
O Correio da Linha (CL) – Pode contar-nos um pouco da história da Cooperativa?
Jorge Rafael (JR) – A Cooperativa Agrícola de Sintra foi formada em 1952. Um dos principais motivos para a fundação da Cooperativa foi a possibilidade de adquirir os fatores de produção a um custo mais baixo, já que, ao serem comprados pelos associados através da Cooperativa, não estavam sujeitos a impostos. Na altura, os produtos comercializados pela cooperativa eram, na sua maioria, cereais e rações para alimentação animal e os adubos e sementes para a agricultura. Com o tempo, a Cooperativa foi comercializando outros produtos e hoje em dia, vende também produtos fitofarmacêuticos, máquinas e ferramentas para a agricultura e jardinagem, material de rega, vinhos e outros produtos de consumo; dispõe ainda de um gabinete onde os associados se podem candidatar a subsídios agrícolas e fazer o seu Parcelário de terras, bem como uma sala onde se administram cursos de formação diversos, entre os quais o de “Aplicação de produtos fitofarmacêuticos”. Além disto, existem 2 técnicos, eu e o Vítor Coelho, a quem os associados e clientes podem recorrer quando necessitam de algum parecer técnico sobre os mais diversos assuntos. A Cooperativa já teve 14 lojas de venda espalhadas pelo concelho de Sintra; hoje em dia, até porque a mobilidade das pessoas é mais fácil, conta com 6 lojas.
CL – Como e quando é que assumiu a Presidência da Cooperativa e quais têm sido as suas prioridades?
JR – Esta direção, da qual faço parte juntamente com o Fernando Leitão e a Margarida Colares, entrou em funções no princípio deste ano. As nossas prioridades são, como não podia deixar de ser, servir cada vez melhor os nossos associados e clientes, comercializando na Cooperativa os produtos que eles necessitam e prestando-lhes o apoio necessário. Por outro lado, igualmente muito importante para nós, são os nossos funcionários pois são eles que dão a cara na Cooperativa e que a põe a funcionar; desta forma, se pretendemos uma Cooperativa cada vez melhor, temos de ter bons funcionários o que implica proporcionar-lhes boas e agradáveis condições de trabalho. Isto implica procurarmos aumentar os ordenados todos os anos acima daquilo que é legalmente indicado. Por último, estamos sempre disponíveis para poder colaborar, juntamente com outras instituições, para o contínuo desenvolvimento da agricultura da região.
CL – Como é que a Cooperativa Agrícola de Sintra se adaptou ao longo dos anos às necessidades dos agricultores locais?
JR – No que concerne aos agricultores profissionais, diria que de há 30/40 anos para cá, a Cooperativa foi perdendo contacto com estes alguns deles. Tal deve-se ao facto de as crescentes necessidades dos agricultores, nomeadamente em assistência técnica e fatores de produção mais inovadores, não terem sido acompanhadas pela Cooperativa. Por outro lado, verdade seja dita, o cooperativismo não parece ser uma característica de grande parte do povo português e os agricultores desde sempre também não contribuíram muito para se conseguir desenvolver a Cooperativa.
CL – Quais são os principais desafios que os agricultores da região enfrentam atualmente?
JR – Julgo que o grande problema dos agricultores da região é assegurar que os seus produtos sejam pagos a um preço justo e conseguir um bom escoamento para aquilo que produzem a preços justos. Neste sentido, se não quiserem ficar nas mãos das grandes superfícies de comércio, parece-me que têm um grande desafio que passa por se organizarem de modo a criar uma organização de produtores que, entre outras coisas, terá como função mais importante a comercialização destes produtos.
CL – Como é que a Cooperativa promove práticas agrícolas sustentáveis?
JR – Neste momento, vendendo alguns adubos orgânicos e produtos fitofarmacêuticos que respeitem o equilíbrio dos ecossistemas agrícolas e ambientais, não os poluindo. Por outro lado, promovendo, por exemplo, sempre que possível, a rega gota a gota, que permite poupar perto de 50% da água relativamente a outros sistemas de rega.
CL – Quais são as iniciativas mais recentes para introduzir novas tecnologias agrícolas?
JR – Tem-se assistido ao desenvolvimento da aplicação de drones em agricultura, o que permite identificar de uma forma mais rápida diferentes manchas na parcela da cultura, o que pode indiciar, por exemplo, diferentes necessidades de rega e/ou fertilização, ou focos de ataques de pragas e doenças. Com isto, é possível, de forma mais fácil e eficaz, poder atuar-se localmente, tendo em atenção as manchas, em vez de tratar a parcela da cultura toda da mesma maneira.
CL – Como é que a Cooperativa diferencia o atendimento a pequenos e grandes agricultores?
JR – Neste momento não diferencia. Qualquer um que necessite, será atendido dentro das possibilidades e capacidades da Cooperativa. No que concerne a preços, poderão efetivamente existir descontos de quantidade ou descontos para profissionais, pois fazem um maior volume de compras.
CL – Pode explicar como funciona o apoio técnico direto nas explorações agrícolas?
JR – A Cooperativa não possui nem nunca possuiu técnicos de campo (aqueles que estão a maior parte do seu tempo no campo e vão visitando os agricultores constantemente apercebendo-se das suas necessidades e prestando apoio técnico). Haver técnicos de campo seria importante para a agricultura da região e é um assunto que desde há muito tem sido equacionado na Cooperativa; contudo, sendo um investimento de algum valor e que não dará resultados a curto prazo é, por isso, difícil de ser um serviço assumido unicamente pela Cooperativa – pelo menos neste momento – se não houver apoios financeiros. Não obstante, como referido já foi referido, caso seja necessário, os dois técnicos que a Cooperativa dispõe podem deslocar-se às explorações ou jardins se assim for pretendido.
CL – De que forma é que a Cooperativa apoia na comercialização dos produtos agrícolas?
JR – A Cooperativa tem vendido nas suas lojas alguns produtos produzidos pelos seus associados, entre os quais, laranjas, kiwis, peras, mas principalmente maçãs. Neste último caso, a Cooperativa dispõe de câmaras frigoríficas nas suas instalações em Colares, onde os associados podem conservar as maçãs e as peras, por cerca de 6 meses, até que as consigam vender.
CL – Quais são os programas de formação disponíveis para os agricultores?
JR – As três principais formações que temos dado na Cooperativa para agricultores são a “Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos”, a formação “Conduzir e operar com o trator em segurança” e o curso de “Manobrador de máquinas e equipamentos agrícolas e florestais”. Para os nossos funcionários, principalmente, também temos dado formações de “Comercialização de produtos fitofarmacêuticos “e “Condução de empilhadores”. Estamos abertos à possibilidade de disponibilizar outros cursos, desde que sejam solicitados pelos nossos associados e haja um número suficiente de pessoas inscritas para os ministrar.
CL – Como garantem a qualidade e variedade dos produtos que oferecem?
JR – A variedade dos produtos que oferecemos está relacionada com a procura por parte dos clientes e conseguimo-la, por um lado, através da oferta dos nossos fornecedores e, por outro, através da pesquisa de mercado. Quanto à qualidade dos produtos, temos produtos de várias qualidades e que, por isso, também têm preços diferentes, para satisfazer as diferentes exigências dos associados.
CL -Quais são os objetivos de longo prazo da Cooperativa?
JR – Diria que temos dois grandes objetivos para a Cooperativa. O primeiro objetivo passa por atender cada vez melhor os seus associados, oferecendo uma maior variedade de produtos com qualidade superior e um atendimento aprimorado. O segundo objetivo é contribuir para que a agricultura se mantenha e até se desenvolva em um concelho cada vez mais urbanizado, o que é essencial do ponto de vista da sustentabilidade, pois garante a capacidade de produzir localmente e alimentar a população.
CL – Quantos membros têm registados e de que forma garantem a comunicação com todos?
JR – Não consigo precisar o número exato, mas temos registados perto de 19 mil associados, fora os clientes que não são associados. Claro que dos 19 mil associados registados nos 73 anos de vida da Cooperativa muitos já não existem. Contudo, devemos ter cerca de 10 mil pessoas que compram nas 6 lojas da Cooperativa, entre associados e clientes. A comunicação com os associados pode ser feita de diversas maneiras consoante os casos e as necessidades: pode ser por telemóvel, por e-mail ou, por exemplo, por comunicados enviados para as lojas e afixados, ou distribuídos, nas lojas.
CL – Quais são os planos para expandir ou modernizar os serviços e a infraestrutura da cooperativa?
JR – Atualmente, não há planos de expansão, pois a prioridade é consolidar aquilo que já existe. Quanto à modernização, não há um projeto específico em andamento, embora reconheçamos que há muito a ser feito e aprimorado. Iremos avançando gradualmente, conforme identificarmos necessidades e tivermos os recursos disponíveis para implementá-las.
NOTA: Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico