PNSC: Veados vão ajudar a reduzir riscos de incêndio

Há 11 novos veados-vermelhos ibéricos (Cervus elaphus hispanicus) à solta no Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC). Os 11 cervídeos, 10 fêmeas e um macho, foram libertados no passado dia 25 de Julho, ao final da tarde, na Quinta do Pisão de Baixo, na freguesia de Alcabideche, Cascais, depois de uma viagem iniciada na região alentejana de Mértola (Beja), prolongada por uma paragem inesperada na sequência de um incêndio que obrigou ao corte do trânsito na A2, perto de Alcácer do Sal. 

Os 11 novos residentes da Quinta do Pisão vão juntar-se a 17 cavalos sorraias, 30 burros mirandeses e cinco corços, já ali residentes, com os quais vão conviver no âmbito de um projecto que tem vindo a ser desenvolvido, ao longo dos últimos anos, pela Câmara Municipal de Cascais (CMC), com vista à renaturalização de uma área com 240 hectares, tendo por objectivos a protecção de raças autóctones e uma gestão mais eficaz da vegetação que permita reduzir os riscos de incêndio na serra.

Quem desejar visitar estes novos vizinhos pode fazê-lo. Existe um cercado especial, dotado de portões de segurança, para evitar que os animais possam escapulir-se do condomínio privado que passou a ser a sua nova ‘casa’. Contudo, há alguns cuidados a ter, nomeadamente cumprir uma série de regras elementares: não dar comida aos ocupantes, não sair dos trilhos aconselhados, não fazer barulho e respeitar a Natureza e a privacidade dos animais, tendo em conta que não apreciam ‘selfies’.

Foto: Luís Curado

Salientando a importância de um património natural único existente na ribeira das Vinhas e no seu vale adjacente, um dos mais importantes corredores ecológicos do concelho de Cascais, que pode ser desfrutado pelos amantes da Natureza ao longo de um trilho, com sete quilómetros de extensão, que liga a Baía de Cascais à Quinta do Pisão de Cima, o presidente do Município, Carlos Carreiras, recordou que tem vindo a ser introduzido um grupo de espécies no parque com vista à sua preservação.

“Continuamos empenhados em recuperar espécies que já habitaram, noutros tempos, neste enorme e valioso património do nosso concelho”, assinalou o autarca, realçando a importância do projecto desenvolvido pela CMC, com vista à conservação de um espaço verde privilegiado, garantindo assim a sua sobrevivência, preservação e manutenção, assegurando uma herança que vai ser deixada às próximas gerações. “Um espaço de Turismo e, também, de aprendizagem”, acrescentou.

Foto: Luís Curado

PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO TERRITÓRIO

Presente na cerimónia de libertação dos novos residentes da Quinta do Pisão, o Secretário de Estado da Agricultura, João Moura, enalteceu o trabalho desenvolvido pela Autarquia cascalense. “Tem sido a valorização de um território imenso que está aqui na proximidade de uma malha intensa urbana e que, segundo me transmitiram com muito agrado, se verifica que é um dos spots mais visitados do município de Cascais”, destacou o governante, que agradeceu, em nome do Governo, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Autarquia. 

O evento de reintrodução no PNSC de uma espécie bastante comum na Idade Média, mas que chegou a estar quase extinta em Portugal no final do século XIX, devido a caça excessiva, pressão agropecuária e perda de habitat, contou também com a presença de Nuno Piteira Lopes, Vice-presidente da CMC, de Luís Almeida Capão e de João Cardoso de Melo, respectivamente, presidente e director da Cascais Ambiente, entre outros convidados, que assistiram à libertação dos cervídeos.

Foto: Luís Curado

O projecto de reintrodução de animais autóctones no PNSC conta com o financiamento da Rewilding Europe, um programa lançado em 2011 pela Comissão Europeia no âmbito de uma nova Estratégia de Biodiversidade da União Europeia a ser implementado entre 2020 e 2030, que tem por objectivos restaurar ecossistemas e recuperar espécies autóctones ameaçadas, através de intervenções modernas, legítimas e inovadoras que resultem, simultaneamente, num valor acrescentado para o Meio Ambiente e populações.

“Estes mamíferos vão abrindo clareiras, vão criando novas rotas, e vão permitindo, com essas novas clareiras, a criação, a entrada e o aparecimento de novas espécies”, explicou Luís Almeida Capão, recordando “o trabalho que já fazem as ovelhas campaniças, os cavalos garranos na Peninha, os corços já existentes, ou os cavalos Sorraia, as vacas maronesas e os burros lanudos de Miranda”, que têm tornando os ecossistemas de Cascais mais diversos e mais resilientes a fenómenos climáticos extremos.

Foto: Luís Curado

ANIMAIS AJUDAM A TORNAR PAISAGEM MAIS RESISTENTE 

Um trabalho de relevante importância que ajuda a reduzir os riscos de incêndio no território, que foi alvo, ainda recentemente, de um fogo florestal de grandes proporções registado nas zonas do Zambujeiro e Murches, também dentro do perímetro na freguesia de Alcabideche. “Assim, a nossa paisagem fica mais resistente e mais preparada para aquilo que é o fenómeno natural da bacia do Mediterrâneo, onde Cascais obviamente se insere, trazendo os fenómenos extremos das alterações climáticas”, realçou o presidente da Cascais Ambiente.

Foto: Luís Curado

Também o engenheiro João Cardoso de Melo destacou as características do ecossistema existente na Quinta do Pisão e os benefícios que as espécies que ali têm vindo a ser introduzidas trazem ao território. De acordo com a explicação avançada, esta gestão da paisagem orientada para o combate às alterações climáticas, através da manutenção de pastagens, não visa eliminar por completo os matos, mas criar diversidade, através de um sistema em que os animais fazem o seu papel na ajuda ao controlo do fogo.

Foto: Luís Curado

Autor: Luís Curado

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