Gonçalo Esteves: “O Clube Naval de Cascais é um meio ao serviço do Município”

O Clube Naval de Cascais (CNC), instalado na Baía de Cascais, junto à Marina, foi fundado em 1938, assumindo desde logo um importante papel na promoção e desenvolvimento dos Desportos Náuticos em Portugal, com destaque para a Vela, modalidade em que tem vindo a construir uma imagem de prestígio, aquém e além-fronteiras, e onde conta com uma Escola de Competição que prepara os velejadores para uma carreira desportiva.

Outras modalidades em destaque neste clube desportivo ligado ao mar, numa vila de reis e pescadores, são o Windsurf, a Vela Adaptada (ver caixa), em que tem vindo a marcar a diferença, e o Mergulho, uma forma de explorar o mundo aquático em franca expansão. Para implementar estas actividades, conta como instalações com um ginásio, cais de honra, balneários, uma rampa de acesso à água, restaurante, bar e biblioteca. 

Mercê do percurso realizado ao longo da sua história, a caminho de nove décadas, o CNC tem merecido rasgados elogios da Sociedade. O mérito das suas iniciativas mereceu, em 2013, o título de Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo Presidente da República (PR) Aníbal Cavaco Silva, e, em 2018, o título de Membro-Honorário da Ordem da Instrução Pública, entregue pelo PR Marcelo Rebelo de Sousa.

As actividades desenvolvidas pelo CNC e os eventos desportivos que tem vindo a realizar têm contado com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, que encara a Vela como “um dos desportos mais importantes” para a estratégia de internacionalização do concelho. A Autarquia tem elogiado as iniciativas promovidas pelo Clube e o trabalho realizado na formação, ligação às escolas e promoção da Vela Adaptada. 

A MAIOR ESCOLA DE VELA DO PAÍS

O CNC orgulha-se de ter a maior escola de Vela do País, que assegura a formação de cerca de 900 velejadores por ano, distribuídos por distintas faixas etárias, desde as camadas mais jovens da população até aos seniores, implementando também uma diversidade de níveis de aprendizagem em várias classes, de que se destacam a Optimist, Cascais, Laser’s Pico e Bahia, Ilca, Hobie Cat, Sprinto e Windsurf.

Desde 1950, quando iniciou a sua actividade, a Escola de Vela do CNC tem vindo a formar sucessivas gerações de velejadores portugueses, que conquistaram o reconhecimento dos seus pares. O Clube regista, também, o maior número de presenças em Jogos Olímpicos (JO), em representação da Equipa Olímpica Portuguesa, e conta no seu palmarés com vários títulos nacionais, europeus e mundiais.

De destacar a medalha de prata conquistada nos JO de Londres 1948 pela dupla Duarte de Ameida Bello/Fernando Pinto Coelho Bello, na classe Swallow. Quatro ano depois, nos JO de Helsínquia, Joaquim Mascarenhas Fiúza e Francisco Rebello de Andrade obtiveram a medalha de bronze na classe Star. Nesta mesma classe, nos JO de Roma 1960, Mário Gentil Quina e José Manuel Gentil Quina trouxeram para casa a medalha de prata.

‘O Correio da Linha’ esteve à conversa com Gonçalo Esteves, presidente do CNC, sobre o passado, presente e futuro da instituição que lidera desde Março de 2014, responsável pela organização de importantes regatas internacionais, entre as quais a ISAF Sailing World Championship (2007), America’s Cup World Series (2011), IMOCA Europa Race (2012) e Cascais World Championship RC44 (2015 e 2018) e SUB20 (2016 e 2021).

“SOMOS UMA REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO DE ATLETAS”

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Quantos sócios tem o Clube Naval de Cascais (CNC)? De que nacionalidades?

Gonçalo Esteves (GE) – O CNC conta com cerca de 800 sócios. Os nossos sócios são de diversas partes do Mundo, representando mais de 30 nacionalidades, tais como: Alemanha, Austrália, Brasil, China, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Suécia, etc..

CL – Que idades têm os sócios mais novo e mais idoso do Clube?

GE – O sócio mais novo ainda não completou um ano de idade e o sócio mais velho tem 86 anos.

CL – Quais as modalidades que podem ser praticadas no CNC?

GE – Contamos com Escola de Vela, Windsurf e Centro de Mergulho.

CL – Quem pode frequentar os cursos recreativos e profissionais do Clube?

GE – Os nossos cursos de Vela estão abertos a todas as idades: crianças, jovens e adultos.

CL – O que é preciso fazer para poder ser sócio do CNC?

GE – Contamos com várias categorias de sócio: Efectivo, Júnior (dos 18 aos 25 anos), Menor (até aos 18 anos) e Praticante. Para se ser sócio do Clube, os interessados devem preencher o formulário de sócio, juntar a documentação solicitada e proceder ao pagamento da jóia e quota. Na opção para sócio Efectivo, deve ter dois Sócios Efectivos como proponentes. Caso não tenha proponentes, será feita uma entrevista por um membro da Direcção.

CL – O que está previsto para este ano, em termos de grandes eventos internacionais organizados pelo CNC?

GE – Para além das já conhecidas regatas anuais (HM King Juan Carlos Trophy, Regata de Aniversário, Cascais Vela, Winter Series e Campeonatos Nacionais das classes Dragão, SB20, Finn e J70), vamos organizar o Mirpuri Sailing Trophy, em Julho, e a Invitational Cup, em Outubro.

Foto: Paulo Rodrigues

CL – Que responsabilidades traz o facto de o Clube ter a maior escola de Vela do País?

GE – Ao nível do ensino/formação, temos a responsabilidade de proporcionar um ensino de qualidade e abrangente, desde os níveis iniciantes até aos níveis mais avançados. 

As questões de segurança são uma prioridade crucial. É nossa responsabilidade garantir que as instalações estejam em conformidade com os padrões de segurança, fornecer equipamentos adequados e dotar os treinadores de capacidade para lidarem com situações de emergência.

Sendo o fluxo de participantes elevado, temos de garantir que os barcos e instalações se mantêm em boas condições de funcionamento. Isso obriga a fazer manutenção regular e realizar investimento na renovação de material quando necessário.

Felizmente, têm passado pela nossa Escola de Vela atletas talentosos, com os quais temos de desenvolver programas de treino e calendários competitivos (a nível nacional e internacional), enquadrando-os nas nossas equipas de competição. Durante a sua formação na Escola de Vela, temos de ser bastante proactivos na identificação de talentos e no encaminhamento para a classe adequada às características de cada miúdo.

CL – Têm, também, procurado tornar o Desporto mais acessível e inclusivo…

GE – Para além da responsabilidade da promoção do desporto em diversas faixas etárias, temos um papel significativo na comunidade ao tornar o desporto acessível e inclusivo com o nosso programa de Vela Adaptada. 

Trabalhamos com a Câmara de Cascais e outras instituições que nos permitem tornar o desporto acessível a um vasto número de participantes. Para a Federação Portuguesa de Vela, somos uma referência na formação de atletas, tal como na formação de treinadores, ao sermos uma das entidades de acolhimento de treinadores em estágio.

Dada a natureza aquática das nossas actividades, temos responsabilidades ambientais ao promovermos práticas sustentáveis. Esta questão é bastante relevante e trabalhamos juntamente com a Mirpuri Foundation, o patrocinador da nossa Escola de Vela, na conscientização ambiental entre os nossos membros. 

“O CNC GOZA DE UM PRESTÍGIO INTERNACIONAL COMO NUNCA TEVE”

CL – Como está a decorrer a preparação da participação nos próximos Jogos Olímpicos (JO) de Paris, em 2024? O CNC conta participar com quantos elementos?

GE – Até ao momento, ainda não temos nenhum velejador/equipa seleccionados. Portugal tem três classes apuradas (470, ILCA feminino e ILCA masculino), nas quais temos os seguintes velejadores a concorrer para a vaga portuguesa: a dupla Diogo Costa/Carolina João (470) e Vasileia Karachaliou (ILCA feminino), apesar de esta última estar ainda dependente da resolução do seu processo de naturalização. Estes três velejadores são os favoritos à vaga em cada uma das classes.

CL – Ao longo da história do Clube, qual foi a participação mais significativa dos seus sócios nos JO, em número de participantes e classificações alcançadas?

GE – O CNC é o clube náutico português com maior número de velejadores que participaram nos JO, tendo estado presente em todas as edições desde Londres 1948, quando conquistou a sua primeira medalha, de prata, na Classe Swallow, através da dupla Duarte e Fernando Bello. 

Em Helsínquia 1952, os velejadores Joaquim Mascarenhas Fiúza e Francisco Rebello de Andrade conquistaram mais uma medalha olímpica, de bronze, para Portugal e para o CNC, desta vez na classe Star. Em Roma 1960, novamente nesta classe, foi a vez de Mário Gentil Quina e José Manuel Gentil Quina conquistarem mais uma medalha de prata.

Nas edições seguintes dos JO, foram vários os velejadores a representarem o CNC na Equipa Olímpica Portuguesa, conquistando resultados de excelência, com Diplomas Olímpicos e classificações nos dez primeiros lugares. 

Nos JO de Londres 2012, o CNC foi o clube com o maior número de atletas de toda comitiva olímpica portuguesa, com nove representantes. Para além disso, os sócios do Clube têm conquistado vários títulos ibéricos, europeus e mundiais e inúmeros pódios.

CL – A sua Presidência à frente do CNC começou em Março de 2014. Depois de 10 anos neste cargo, qual o balanço que faz?

GE – O CNC de 2014 pouco tem a ver com o CNC de 2024. Hoje, somos um clube com muito mais actividade desportiva, tanto nacional como internacionalmente, um clube com uma frota de barcos muito mais adaptada às nossas necessidades, um clube que goza de um prestígio internacional como nunca teve, um clube com uma agenda de eventos sociais e com uma rede de clubes correspondentes internacionais de primeiro nível

CL – Quando está previsto terminar o seu mandato? 

GE – No final de Abril deste ano.

CL – É Vice-presidente para a Europa do International Council of Yacht Clubs (ICOYC) desde Maio de 2022. Que significado teve esta eleição? Quando termina este mandato?

GE – O CNC foi convidado a pertencer ao ICOYC em 2015. Fomos o primeiro clube da Península Ibérica a pertencer a esta tão prestigiosa instituição. A região da Europa/África e América do Sul é a maior região do ICOYC. É uma enorme honra e uma enorme responsabilidade liderar nesta associação clubes de tão elevado prestígio mundial. O meu mandato é por quatro anos.

“UM BRAÇO DA CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAIS”

CL – As actuais instalações do Clube foram inauguradas em 2007. O que está previsto, em termos de obras/melhoramentos nestas infraestruturas? Para quando?

GE – Temos previsto, ainda para este ano, poder investir no melhoramento das nossas instalações.

CL – Como está a decorrer a parceria com a Câmara Municipal de Cascais na organização de eventos de Vela e no desenvolvimento de projectos de âmbito desportivo, como o desporto escolar e social e a prática da Vela Adaptada? 

GE – O CNC é um braço da CMC, somos um meio ao serviço do município, trabalhamos de livros abertos.

CL – Qual o impacto da Vela no concelho de Cascais? O que faz de Cascais um local de eleição para a prática dos Desportos Náuticos?

GE – O impacto é enorme, Cascais, a sua hotelaria, o seu comércio e a sua restauração são muitíssimo beneficiados com a actividade náutica que o concelho tem. O tipo de eventos em que o Município aposta tem uma relevante importância para a oferta de uma melhor qualidade de vida que Cascais permite usufruir.

CL – Como decorreram as comemorações do 85.º aniversário do CNC?

GE – Foi um ano repleto de actividade, quer a nível de regatas, quer a nível de eventos sociais.

VELA ADAPTADA

O Clube Naval de Cascais (CNC) tem vindo a desenvolver, desde 2005, o projecto Vela Sem Limites, que possibilita às pessoas com deficiência a prática desta modalidade náutica com elevado potencial lúdico, desportivo e terapêutico.

O Clube dispõe de uma escola de Vela Adaptada destinada a pessoas com mobilidade condicionada e organiza diversas provas para barcos desta classe, contando com vários campeões e excelentes participações em competições nacionais e internacionais.

A Vela Sem Limites conta com as parcerias da CERCICA (Cooperativa de Educação, Reabilitação e Capacitação para a Inclusão em Cascais) e da Câmara Municipal de Cascais, que assinaram com o CNC um protocolo para promoção da prática da modalidade da Vela Adaptada.

No final de 2019, foi lançada uma campanha de crowdfunding para aquisição, através de donativos, de um catamarã (Inclusion 6.5), um objectivo concretizado no início de 2021, com a colaboração de parceiros institucionais, sócios e amigos do Clube.

O projecto Vela Sem Limites está dotado de diversos recursos, nomeadamente um cais adaptado e um pontão móvel, duas gruas de transferência para pessoas com deficiência, uma viatura de transporte adaptado e uma equipa de voluntários e instrutores de Vela. 

A frota destinada à prática da Vela Adaptada é constituída por oito embarcações Hansa, um Paquero e o Catamarã Inclusion 6.5, que foi projectado e construído em Portugal, com convés estável e rampas de acesso, podendo transportar dois monitores e oito passageiros.  

A participação no âmbito do projecto Vela Sem Limites é gratuita e aberta a todas as pessoas com deficiência, independentemente da idade ou da tipologia de deficiência, desde que compatíveis com a prática da modalidade, inseridas em instituição ou a título particular.

Autor: Luís Curado

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