Maramgoní, nome artístico de Waldemar Marangoni Júnior, revelou desde bastante cedo uma grande paixão pelas Artes. Com apenas nove anos, os desenhos e pinturas do menino nascido em São Paulo (Brasil), em 1972, já chamavam a atenção pelo talento natural, inato e precoce, que deixava transparecer na qualidade e capacidade criativa expressas nos seus trabalhos. Autodidata, revelava nos traços, formas e cores que manipulava uma sensibilidade que admirava quem o acompanhava mais de perto.
Ainda adolescente, o jovem pintor paulista decidiu partilhar o talento com outros potenciais artistas da sua cidade, pelo que passou a dar aulas de pintura a óleo. Para tal, abriu o seu primeiro atelier e nunca mais parou de admirar quem tem acompanhado o percurso artístico que construiu. Rapidamente, a mestria da sua arte ultrapassou fronteiras e impôs-se pela excelência das suas criações, um percurso bem atestado pelas exposições já realizadas e prémios conquistados.
Já adulto, Maramgoní iniciou estudos em Arquitectura, revelando preferência por esta disciplina, que combina vários aspectos técnicos e artísticos partilhados com a Pintura, e alimentando, com esta opção, uma inspiração que o levou a evidenciar uma tendência que o tem acompanhado desde então. Essa marca distintiva, patente na retratação do espaço urbano, está bem presente nos seus trabalhos distribuídos por temas, como Cidades Antigas, Cidades Actuais, Greco Romano e Composição Urbana.
Referem os críticos que Maramgoní “conversa com si mesmo e com o seu público através do universo citadino”, exibindo nos edifícios e nas cidades que retrata nos seus trabalhos o assunto estimulante da sua matriz criadora. “Mais do que discutir a Arte, o artista necessita de ter um envolvimento com aquilo que faz, especialmente na sua busca por um aprimoramento técnico e uma linha de trabalho que o satisfaçam enquanto pesquisa estética”, justifica o próprio em relação a essa procura constante.
Actualmente a residir em Lagos, no Algarve, o pintor paulista, que diz trazer sempre no coração a cidade onde nasceu e viveu grande parte da vida, confessa-se também fascinado com “a beleza especial” de Lisboa. Tratou-se de um caso de “amor à primeira vista”, garante, revelando que a decisão de vir para Portugal resultou de um projecto que alimentava há anos. Uma mudança de vida que acabou por dar lugar a uma paixão pelo País e pelas suas gentes, como nos revelou em entrevista, a propósito da sua participação no Salão de Outono do Casino Estoril.
Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Começou a mostrar um talento muito apurado para o Desenho e para a Pintura ainda muito jovem. Recorda-se dos temas que abordava nesses primeiros trabalhos? O que o atraía nestas formas de expressão artística?
Maramgoní – Eu abordava os mais variados temas, que tinham a ver com o meu universo, sobretudo astros do rock e bandas desenhas. E, na Pintura, reproduzia Peter Paul Rubens, a minha primeira grande inspiração. A partir daí, fui à procura de outros artistas para ampliar os meus conhecimentos. Na verdade, a Pintura é que me escolheu, foi um caminho natural.
UM GRANDE DESAFIO DIVERTIDO
CL – Começou a dar aulas de Pintura quando ainda era adolescente. O que recorda desses tempos?
Maramgoní – Para mim, foi um grande desafio, porém divertido, e sem muitos segredos. Eu estudava os grandes artistas e aplicava esses conhecimentos com os meus alunos, foi um grande laboratório para mim, era tudo muito orgânico.
CL – Vive actualmente em Portugal? Quando é que resolveu mudar de País para se instalar? Por que o fez?
Maramgoní – Sempre quis morar fora do Brasil, era um projecto que eu e a minha esposa, Drika, tínhamos. E, então, Deus presenteou-nos com o Matteo, o nosso filho mais novo. Pensando em segurança e em criá-lo sem ‘medos’, imediatamente escolhemos Portugal para ser a nossa nova casa. Apaixonámo-nos profundamente pelo país e pela sua gente, agora também a nossa gente.
CL – Já tinha participado em alguma exposição realizada no Casino Estoril?
Maramgoní – Sim, já tive o privilégio de fazer duas exposições individuais e de participar em alguns salões de Outono e em outras exposições colectivas. Para mim, é sempre uma honra expor na Galeria de Arte do Casino Estoril. O facto curioso nessa questão é que eu, desde que vivia no Brasil, já ‘namorava’ e sonhava em expor nesta tão linda e famosa galeria do hoje meu grande amigo Pedro Carvalho. Nem queria acreditar quando expus lá pela primeira vez, foi um sonho realizado.
CL – Quais as suas referências artísticas? Que artistas mais o impressionaram, e continuam a impressionar?
Maramgoní – Peter Paul Runbens (pintor flamengo do estilo barroco, 1577-1640). Foi através da minha paixão pela sua obra que tudo começou. Também aprecio muito Gustav Klimt (1862-1918), Hieronymus Bosch (1450-1516), Rembrandt (1606-1669), Carl Spitzweg (1808-1885) e Pieter Bruegel (1525/30-1569), entre outros.
CL – Grande parte da sua Pintura aborda o tema das cidades. Porquê as cidades? O que o fascina nesses espaços urbanos cosmopolitas?
Maramgoní – As cidades têm uma personalidade própria, características específicas que as diferenciam umas das outras, uma identidade. E isso é muito especial.
CL – O que tenta retratar nas cidades antigas?
Maramgoní – Eu resgato a memória, convido as pessoas a reviver o passado, é uma forma de recordar o melhor de cada tempo. Desta forma, eu também consigo viver o que nunca vivi.
CL – E nas cidades actuais?
Maramgoní – Procuro retratar o que vivemos, mostrar o que a cidade tem de melhor. Tento fazer com que as pessoas prestem atenção na beleza de cada lugar que é retratado.
CL – Costuma perder-se nas ruas das cidades que retrata?
Maramgoní – Sem dúvida, desconecto-me da realidade do local onde estou e viajo para outros lugares, outras épocas.
“ESTOU ENCANTADO COM A BELEZA DE LISBOA”
CL – Qual a sua cidade de eleição? A que mais o impressiona e inspira?
Maramgoní – Tenho no meu coração três cidades muito especiais para mim: Nova Iorque, São Paulo e Lisboa. Cada uma por uma razão particular. Nova Iorque, pelo caos urbano e grandiosidade. São Paulo, onde nasci e vivi boa parte da minha vida. Quanto a Lisboa, que carinhosamente chamo de ‘minha linda’, pois é de uma beleza especial, foi amor à primeira vista.
CL – A Pintura pode captar e eternizar a ‘personalidade’ de uma cidade?
Maramgoní – Sem dúvida nenhuma, essa é a função da Pintura, é a função dos meus pincéis e tintas: imortalizar os lugares e as pessoas.
CL – Prefere pintar as grandes metrópoles mais conhecidas. As cidades menos cosmopolitas não o inspiram?
Maramgoní – Todas as cidades são inspiradoras, pelas suas histórias, ruas, lugares. Acabei de pintar o belíssimo Município de Lagoa, que comemora os seus 250 anos. É uma cidade pequena no Algarve e riquíssima em histórias, uma maravilha. Criei 27 obras a retratar o concelho, o seu povo e as suas peculiaridades, que fizeram parte da exposição “Orgulho em ser Lagoa – Um Olhar sobre o Território”.
CL – Qual a cidade que gostaria de pintar e que ainda não visitou?
Maramgoní – Tóquio, no Japão. Deve ser uma loucura. Eu ainda vou lá pintar ‘in loco’.
CL – Se pudesse construir a cidade dos seus sonhos, como seria essa cidade? Que características teria?
Maramgoní – Que pergunta difícil essa. Acho que gostaria de construir uma cidade mesclada com Chicago dos anos 1950 e com o fomento cultural de Paris dos anos 1920/30. Seria meio Art Déco/Nouveau.
CL – Qual a cidade portuguesa que mais gosta/gostou de pintar?
Maramgoní – Lisboa encanta-me. Na verdade, tenho-me surpreendido com cada cidade que visito. Portugal tem uma beleza em cada aldeia, vila, concelho, cidade, enfim… estou a descobrir lugares muito especiais.
CL – O que mais o impressiona na civilização greco-romana?
Maramgoní – Tudo: a Arquitetura, a Filosofia, é o berço da Arte.
CL – Os estudos em Arquitectura influenciaram de forma definitiva as suas opções artísticas? O arquitecto foi vencido pela veia artística do pintor?
Maramgoní – Mesmo não sendo arquitecto oficialmente, estudei muito sobre o tema, com os meus pincéis e tintas, criei e crio perspectivas, profundidade, pontos de fuga. Construo e reconstruo cidades.
CL – É um fã de Automobilismo ou sente-se ‘apenas’ inspirado pelas imagens mais românticas das corridas de automóveis antigos, que costuma pintar?
Maramgoní – Inspiram-me as imagens, a atmosfera e a magia das corridas de automóveis, fui-me apaixonando aos poucos. Na verdade, é sempre a história, o resgate da memória, que me move, foi um desafio transformar uma arte em outra.
CL – Entre a luz, a sombra e os jogos de cor, qual é a ferramenta mais poderosa, que melhor caracteriza a sua Pintura?
Maramgoní – Elas complementam-se, como tudo na vida, pois sem sombra não há luz e sem luz não há sombra, e as cores são também valorizadas através dos jogos de luz e sombra.
“AS PESSOAS ESTÃO SEMPRE LÁ”
CL – O que é mais importante nas suas pinturas, a Arquitectura das cidades, ou os seus habitantes? A figura humana é esmagada pela grandiosidade das grandes metrópoles?
Maramgoní – Depende do contexto e do que procuro, mas uma coisa complementa a outra. A figura humana dá vida às cidades e as cidades acolhem as pessoas. Mesmo quando há só a Arquitetura, através das luzes acesas, é possível perceber a presença humana. Nunca será só a Arquitetura, as pessoas estão sempre lá.
CL – Grande parte da sua actividade artística tem sido desenvolvida em São Paulo. A cidade é uma musa que pode prender o artista?
Maramgoní – São Paulo é a minha terra de nascença e estará sempre no meu coração. Prender, não, ela liberta. O amor liberta e faz-nos criar asas e aceitar os desafios de procurar novos horizontes.
CL – Onde tem instalado o seu atelier?
Maramgoní – Moro em Lagos, no Algarve, onde fica o meu atelier e a galeria de arte: a Art Inspirada.
CL – Próximas exposições em carteira?
Maramgoní – Em Março do próximo ano, regresso à Galeria de Arte do Casino Estoril com uma nova exposição individual. Neste momento, tenho também previstas duas outras exposições individuais, uma em Aljustrel, em Maio, e outra em Ferragudo, em Junho.