Palmeiras Shopping: Um centro comercial à frente do seu tempo

Um dos primeiros centros comerciais a abrir portas em Portugal, o Palmeiras Shopping, um amplo espaço comercial com cerca de 170 lojas, localizado num dos mais emblemáticos bairros do concelho de Oeiras, assinala o seu 37.º aniversário no próximo dia 28 de Junho. Uma história de sucesso, iniciada em 1986, que tem conseguido resistir à passagem do tempo e à efemeridade das modas.

Distribuído por dois pisos construídos na base de um complexo de torres de apartamentos de grandes dimensões, com 16 andares, que marcam a paisagem de Nova Oeiras, este espaço comercial oferece aos clientes uma diversidade de opções de compras, desde um supermercado até um estabelecimento de produtos esotéricos, passando por perfumaria, têxteis, cabeleireiros, restauração e moda, entre outros.

Aberto todos os dias entre as 10h00 e as 23h00, cumprindo um horário diário de 13 horas, o Palmeiras Shopping dispõe de uma rede Wi-Fi gratuita para acesso livre à Internet e de um elevador especial instalado no recinto para facilitar a acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida, contando ainda com um amplo hall central, onde, periodicamente, são organizados os mais variados eventos.

Foto: Paulo Rodrigues

Foi no início dos anos 1980 que Francisco da Silva Santos, um industrial da Construção Civil nascido numa modesta família residente no Arneiro, uma localidade junto a Sassoeiros, no território da actual União das Freguesias de Carcavelos e Parede, no vizinho concelho de Cascais, decidiu apostar num ambicioso projecto para construir um complexo de quatro torres habitacionais, aproveitando o aumento da procura de habitação na zona.

Depois de vários anos emigrado com a família em França, mais concretamente em Saint-Germain-en-Laye, uma localidade próxima de Versalhes, nos arredores de Paris, onde ganhou dimensão na construção e restauração de imóveis, este empreendedor acabou por regressar a Portugal em 1971 com o objectivo de materializar os seus sonhos num País ainda muito mergulhado no passado à espera de uma revolução para poder construir um novo futuro.

A perseverança e resiliência de Francisco da Silva Santos, aliados ao seu espírito decidido e lutador, acabaram por ser ingredientes decisivos para conseguir cumprir aquele que seria o seu principal projecto na Construção Civil: as quatro torres de apartamentos construídas na Quinta das Palmeiras, que decidiu baptizar com os nomes de cidades europeias. No caso: Lisboa, Londres, Paris e Madrid.

Desde 2018, após a morte de Francisco da Silva Santos, ocorrida em 2003, com 70 anos de idade, a gerência do Palmeiras Shopping tem sido assumida pela única filha do empresário, Ana Maria Santos, com quem o jornal ‘O Correio da Linha’ falou sobre as experiências e memórias mais marcantes à frente daquele que foi um dos primeiros centros comerciais portugueses. Um percurso e uma vivência revistos na primeira pessoa.

Foto: Paulo Rodrigues

“A FESTA DA INAUGURAÇÃO FOI LINDÍSSIMA”

Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Lembra-se do dia da inauguração do Centro? Esteve presente?

Ana Santos (AS) – Não, por acaso, não estive. Por motivos pessoais, não pude estar presente na festa de inauguração do Centro. Ainda guardo as filmagens que foram feitas nesse dia. Foi uma festa lindíssima, que contou com a presença de inúmeras individualidades, nomeadamente o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. Isaltino Morais, o presidente da Junta de Freguesia, os arquitectos que participaram na construção e outras personalidades da altura.

CL – Qual foi a sua primeira impressão do Palmeiras Shopping?

AS – Recordo-me muito bem do primeiro dia em que aqui entrei. Fiquei maravilhada com a existência de tantas lojas, todas reunidas num só espaço, de haver tanta opção de escolha para fazer compras. Na altura, era algo que não era habitual em Portugal. Havia sempre muita gente a querer visitar o Centro. Ouviam-se muitos comentários de agrado: “Está bom”, “Está muito giro”, “Está tão lindo”.

CL – Acompanhou a construção do Palmeiras Shopping e das torres em redor?

AS – Eu vi isto nascer. Acompanhei toda a construção. A primeira vez que aqui entrei foi espectacular. Adorei. O meu pai foi sempre muito visionário. Acho que aquilo que ele fez aqui foi uma coisa espectacular.

CL – Recorda alguma loja em particular?

AS – Lembro-me da pastelaria/padaria Lua de Mel, que foi uma loja que vingou no Centro, que era sempre muito procurada.

CL – Lembra-se de algum episódio curioso ocorrido durante a construção?

AS – Quando terminou uma das torres, o meu pai decidiu celebrar a conclusão da construção com a realização da tradicional festa/almoço ‘pau de fileira’, que juntava todos os intervenientes na obra, como era normal fazer-se. Costumavam também colocar traves enfeitadas com ramos de árvores no topo dos edifícios.

Como tal, ele mandou preparar uma refeição de leitão assado, encomendada a um restaurante, mas quando se preparavam para começar a festa descobriram que o leitão tinha desaparecido todo, tinha sido tudo roubado. Como não ficou nada para comer, tiveram de encomendar à pressa mais comida vinda de outro lado.

CL – O Palmeiras Shopping chegou a ter Cinema?

AS – Sim, chegou a haver muito Cinema. Entretanto, as salas encerraram, porque a empresa que esteve a gerir esses espaços abriu falência, mas continuam a existir as duas salas de Cinema, uma com capacidade para cerca de 200 pessoas e outra para cerca de centena e meia. Se houvesse alguém que tomasse conta destas salas, isto começava outra vez a funcionar com Cinema.

Foto: Paulo Rodrigues

UMA HOMENAGEM ESQUECIDA NA GAVETA

CL – Como avalia o trabalho que o seu pai desenvolveu como empresário da Construção?

AS – Ele foi um grande homem da Construção. Não só dito por mim, como por muitas outras pessoas. No sector, todos o achavam um grande visionário. Na Câmara, chegaram a prometer fazer-lhe uma homenagem, com a inauguração de um busto aqui junto ao centro, mas isso acabou por nunca acontecer. As coisas esquecem-se, mas teria sido bonito terem cumprido essa promessa.

CL – Desde quando é que está à frente da gestão do Centro?

AS – Quando morreu, o meu pai deixou uma falência. Por isso, na altura, quem ficou a assumir a gestão do Centro foi um liquidatário judicial, o Dr. Pinto de Oliveira. Essa situação manteve-se até 2017. Depois, a partir de 2018, passei a tomar eu conta disso.

CL – Como tem sido gerir o Palmeiras Shopping desde essa altura?

AS – As maiores dificuldades que enfrentei foram conseguir receber as dívidas que havia em relação aos alugueres das lojas. Pelo menos, três dos arrendatários deviam cerca de 50 mil euros cada um. Cheguei a receber ameaças contra a minha pessoa. Eu mesma tive de pagar algumas dívidas que sobraram para mim. E ocorreram casos em que as pessoas acabaram por ter de ir embora, sem que terem liquidado as dívidas que tinham para com a minha empresa.

CL – Quais foram os melhores momentos que viveu depois de ter assumido a gestão do Centro?

AS – Momentos bons? Acho que nunca tive nenhum. Tive sempre grandes dores de cabeça. Ainda hoje, isso acontece. Surgem sempre problemas, chatices, complicações que é preciso resolver.

CL – Qual foi a situação que mais gostou?

AS – Cobrar as rendas atrasadas, para mim é isso, recuperar o dinheiro em dívida. E tem sido bem complicado, tenho uma série de casos em tribunal para conseguir que isso se resolva. Demora tudo imenso tempo. Os tribunais são muito lentos no nosso País, não resolvem nada. Esperamos anos e anos, muitas vezes até os casos prescreverem.  

CL – Em termos das lojas actualmente existentes, comparativamente com o passado, quais as principais alterações que nota no centro?

AS – O que mudou resultou de algumas lojas boas terem fechado devido a más decisões tomadas por quem as tinha arrendado. Por exemplo, decidirem encerrar as lojas em determinados horários, o que não pode acontecer num centro comercial, onde tem de estar tudo sempre aberto. Entretanto, actualmente, há imensas lojas de beleza, sobretudo para arranjar unhas, cabeleireiros, tratamentos de beleza. Ou seja, negócios mais fáceis de montar.     

CL – Durante os anos da pandemia COVID-19, as lojas do Palmeiras Shopping foram muito afectadas?

AS – Completamente, registou-se uma quebra de negócio significativa, sobretudo na altura em que tivemos de estar fechados. Em alguns casos, chegámos mesmo a facilitar o pagamento das rendas, para evitar que alguns negócios tivessem de fechar de vez. Eu, sinceramente, vim trabalhar sempre. Estive sempre aqui no Centro, de máscara, no meu escritório.

CL – Como vê o futuro do Centro?

AS – Pode ser muito bom, ou não, depende do que vier a acontecer. Tendo as lojas todas alugadas e com um bocado mais de ‘cachet’, pode conseguir-se fazer coisas muito interessantes. Por exemplo, ter um ou dois restaurantes de topo, de referência, para poder dar uma melhor resposta à procura das pessoas com maior poder de compra que vivem aqui nas torres. Gostava também muito de reabrir as salas de Cinema.

CL – Quando decidir retirar-se, quem vai assegurar a gestão do Centro?

AS – Vai ser o Rafael, o meu filho.

Foto: Paulo Rodrigues

SEGUIR O LEGADO DO AVÔ E DA MÃE

Depois do avô e da mãe, caberá a Rafael Santos, de 46 anos, assumir os comandos do legado familiar à frente do centro comercial Palmeiras Shopping. Um dos seus desejos para o futuro do projecto é torná-lo mais moderno.

“Será uma grande responsabilidade. Gostava que o Centro pudesse ser modernizado e que pudesse estar todo ocupado para assegurar a sua viabilidade. Vou apostar os meus esforços na concretização destes objectivos”, assegura.

Desde muito jovem, Rafael Santos habituou-se a acompanhar a evolução do projecto: “Recordo-me de brincar nas torres quando elas foram construídas. Ainda não havia portas nem janelas e fazia uma corrente de ar muito forte que me deixava com tremendas dores de ouvidos.”

As memórias não ficam por aqui. “Lembro-me também de haver perto das torres uma zona onde guardavam as areias e os materiais para a construção e de andar a escorregar pelos montes de areia. Para mim, era uma espécie de parque de diversões”, conta.

Do avô, que recorda como sendo “um grande homem, um grande construtor que ajudou a mudar muita coisa em Oeiras ao nível da construção”, recebeu uma outra herança, esta de características mais pessoais: “a paixão pelo Sporting”.

“Era o clube de coração do meu avô, um grande sportinguista. Lembro-me de ir com ele ver os jogos a Alvalade. Era um grande aficionado, que vivia intensamente os jogos do seu clube de eleição, até ficava com o queixo a tremer nos momentos de maior emoção”, lembra.    

VÍTIMA DE RAPTO E SEQUESTRO

Em Outubro de 1990, Francisco da Silva Santos protagonizou um episódio digno de figurar numa série policial, tendo vivido uma situação muito difícil que chegou a ser notícia nos jornais. O empresário foi alvo de um rapto perpetrado por dois meliantes, um dos quais emigrado em França, que puseram em prática um plano para raptar, sequestrar e extorquir-lhe dinheiro.

Depois de ter sido sujeito a uma noite de pânico e tortura, o responsável pela construção das torres e centro comercial Palmeiras Shopping acabou por ser libertado e os criminosos detidos por uma brigada especial da PSP de Oeiras. Os dois homens, de 24 e 28 anos, acabaram por ser julgados e sentenciados a penas de 9 e 11 anos de prisão.

Autor: Redacção

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