Os Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana (BVCSDR) festejaram o seu 111.º aniversário no passado dia 2 de Julho. O programa das comemorações teve início às 10h30, com a formatura geral do Corpo de Bombeiros, seguida da sua apresentação às entidades convidadas para os festejos. Ainda durante a manhã, decorreu uma cerimónia de Juramento da Bandeira por parte dos novos bombeiros, a que se seguiu a entrega de condecorações e a assinatura de um protocolo com a Junta de Freguesia de São Domingos de Rana.
O trabalho desenvolvido pela corporação tem merecido elogios. Em Dezembro último, a Câmara Municipal de Cascais (CMC) distinguiu os operacionais dos BVCSDR com medalhas de mérito por Serviço Distinto, durante uma cerimónia de reconhecimento do trabalho prestado na linha da frente no combate à pandemia COVID-19. “Estes homens e mulheres merecem o reconhecimento, não só da CMC, mas de todos os munícipes de Cascais, pelo trabalho desenvolvido todo o ano, durante todos os dias, e a todas as horas”, assinalou o presidente da autarquia, Carlos Carreiras.
Além das medalhas atribuídas aos operacionais da corporação por Serviço Distinto prestado à comunidade, o Município aproveitou a ocasião para entregar aos bombeiros equipamentos e viaturas concedidos no âmbito do Orçamento Participativo de 2019, num investimento que ascendeu a 350 mil euros. A saber: um veículo de transporte táctico de pessoal, um veículo de transporte de doentes totalmente eléctrico, uma ambulância com sistema avançado de desinfecção dotada com um contentor para a Unidade de Comando e Apoio Sanitário e equipamento de protecção pessoal e para desencarceramento.
No âmbito do 111.º aniversário dos BVCSDR, o jornal ‘O Correio da Linha’ contactou com o comandante da corporação, Paulo Domingos dos Santos, com quem esteve à conversa sobre a efeméride. Entre os temas abordados, destacam-se o passado, presente e futuro deste corpo de bombeiros, que passou a contar com novas instalações, ampliadas e renovadas, orçadas em 1,3 milhões de euros e inauguradas em Abril de 2019. Uma oportunidade para conhecer melhor a corporação, quantos elementos a constituem e de que tipo de equipamentos dispõe para poder cumprir as suas várias missões.
“É PRECISO REORGANIZAR A ESTRUTURA DOS BOMBEIROS”
Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Uma História com 111 anos não é para todos. Com base neste percurso centenário, como antevê o futuro da corporação?
Paulo Domingos dos Santos (PDS) – O futuro desta centenária Associação e Corpo de Bombeiros muito dependerá do que a comunidade quiser. Os desafios de ser voluntário na sociedade actual, com a exigência específica do voluntariado nos Bombeiros, com múltiplas obrigações, desde logo, o cumprimento do serviço operacional mínimo, a formação e a instrução interna, levam a que os jovens não estejam tão disponíveis para servir nos bombeiros. De igual modo, a organização de bombeiros em Portugal carece de reordenação da estrutura, que muito influenciará o futuro desta e da generalidade das Associações Humanitárias do País.
Outro grande desafio será a sustentabilidade da nossa e de outras Associações, onde se recorre cada vez mais à contratação de profissionais para assegurar o socorro da comunidade e onde a subsidiodependência tem que deixar de ser a regra para passar a ser a excepção. Pessoalmente, estarei empenhado para que o meu Corpo de Bombeiros tenha uma estrutura sustentada nas competências técnicas dos nossos Bombeiros para que a comunidade continue a confiar em nós e para que possamos prestar um socorro à comunidade em condições, no mínimo, tecnicamente aceitáveis.
CL – Em 2019, os Bombeiros de Carcavelos e São Domingos de Rana inauguraram novas instalações ampliadas, uma obra com que sonhavam há vários anos. As novas instalações são suficientes/adequadas às necessidades actuais da corporação?
PDS – As instalações inauguradas em 2019 tiveram um impacto muito superficial no Corpo de Bombeiros. Recordo que as novas instalações albergam os serviços administrativos, o espaço saúde (com diversas especialidades médicas direccionadas para o público), salas de reuniões de direcção, sala multiusos e novas oficinas. Ou seja, com excepção da sala multiusos, onde reunimos ocasionalmente o corpo de bombeiros e realizamos algumas acções de formação, as novas instalações em nada contribuíram para as condições de trabalho dos nossos Bombeiros.
Cresce no seio dos nossos voluntários a necessidade urgente da renovação da área operacional. Sublinho que o Presidente da Câmara Municipal de Cascais já disponibilizou as verbas necessárias para essa renovação da área operacional, contudo, primeiro a Pandemia, depois constrangimentos burocráticos têm atrasado essa concretização.
CL – O que está previsto para assinalar mais este aniversário?
PDS – Este aniversário, o primeiro realizado no formato ‘normal’ desde 2019, pretendemos que fosse de partilha com a comunidade. Nesse sentido, a nossa formatura, a recepção às entidades, bem como o desfile apeado e motorizado, teve lugar na localidade de Abóboda e não no quartel. Destaco nessa cerimónia, a celebração de um protocolo entre a nossa Associação e a Junta de Freguesia de São Domingos de Rana, o qual prevê apoio no âmbito da segurança contra incêndios em edifícios da Junta, formação para funcionários e comunidade, bem como a instalação na freguesia de um Posto Avançado de Bombeiros.
PROJECTO CANDIDATO AO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
CL – A corporação costuma participar no Orçamento Participativo promovido pela Câmara Municipal de Cascais. Apresentaram alguma candidatura ao OP 2022?
PDS – Sim, este ano apresentámos um projecto que foi aprovado na primeira fase e que irá agora ser avaliado pela comissão técnica com vista a que o mesmo possa ser votado pela comunidade em Novembro próximo. Esse projecto prevê a aquisição de dois veículos: um veículo florestal de combate a incêndios, que virá substituir um outro com mais de 30 anos, e outro veículo com sistema de multilift com tanque de 13.000 litros de água, também para substituir um outro tanque com mais de 23 anos.
CL – Quais as principais solicitações a que a corporação dá resposta?
PDS – Estando o Corpo de Bombeiros inserido numa área eminentemente urbana, a nossa resposta operacional está muito direccionada para o socorro e emergência pré-hospitalar, com cerca de 4.000 ocorrências anuais, o salvamento rodoviário com cerca de 200 ocorrências anuais e os incêndios urbanos com cerca de 50 ocorrências anuais.
CL – Existem números das intervenções realizadas no ano passado?
PDS – Em 2021, respondemos a 4.021 pedidos de socorro no âmbito do SIEM (Sistema Integrado de Emergência Médica), verificando-se um ligeiro aumento face a 2020. No âmbito do transporte de doentes, os serviços requisitados pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo continuam a ser os mais expressivos, com mais de 125 mil transportes efectuados no ano passado.
CL – Com quantos elementos, e de que categorias, conta actualmente a corporação?
PDS – O Corpo de Bombeiros conta atualmente com: 4 elementos de comando, 3 oficiais-bombeiros, 3 chefes, 5 subchefes, 11 Bombeiros de 1ª, 23 Bombeiros de 2ª, 34 Bombeiros de 3ª, 3 Especialistas (1 médico e 2 motoristas), 11 Estagiários, 7 cadetes e 13 Infantes.
CL – De que equipamentos dispõem, nomeadamente veículos?
PDS – À data, dispomos de: 5 ambulâncias de socorro, 3 ambulâncias de transportes múltiplos (doentes não urgentes), 2 veículos dedicados ao transporte de doentes (1 dos quais 100% eléctrico), 1 veículo de comando táctico, 2 veículos de transporte de pessoal táctico, 1 veículo de salvamento e desencarceramento, 1 veículo urbano de combate a incêndios, 2 veículos florestais de combate a incêndios, 1 bote de resgate e salvamento, 1 veículo de transporte geral, 2 veículos tanque táctico urbano e 1 veículo de apoio logístico especial (transporta 4 unidades distintas).
Com vista à realização das nossas missões, dispomos ainda de Unidade de carga geral, Unidade autónoma de ar respirável, Unidade de comando e apoio sanitário e Unidade Autónoma Especial de Salvamento.
RENOVAÇÃO DA ÁREA OPERACIONAL DO QUARTEL
CL – Quais as principais necessidades actuais da corporação?
PDS – A principal necessidade é concretizar a renovação da área operacional do quartel, dotando o mesmo das condições básicas ao nível dos balneários, camaratas masculinas e femininas, sala de convívio e refeitório. Prosseguimos no nosso objectivo de renovação de frota de veículos, como forma de redução de custos, nomeadamente com a aquisição de mais um veículo 100% eléctrico, dedicado ao transporte de doentes não urgentes, e iniciaremos este mês mais uma campanha de recrutamento de novos voluntários.
CL – O Orçamento da corporação foi reforçado para dar resposta ao aumento de solicitações recebidas durante o período da pandemia COVID-19?
PDS – Obviamente que a entidade detentora do Corpo de Bombeiros foi obrigada a algumas alterações orçamentais, tendo em conta, não só o aumento de custos, mas também a redução de serviços (facturação) motivado pelo isolamento e restrições a que todos estivemos obrigados. Porém, a situação não atingiu um grau de maior alarme, graças ao extraordinário apoio da Câmara Municipal de Cascais, ao assegurar o fornecimento de consumíveis, equipamentos de protecção individual e testes de despistagem para enfrentarmos a Covid-19.
Também a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil e algumas empresas da nossa área de actuação apoiaram com esse tipo de equipamentos essenciais à nossa actividade.
CL – Com mais uma época balnear a decorrer, quais os meios solicitados à corporação para colaborar no programa de segurança balnear implementado pela Câmara Municipal de Cascais?
PDS – O Corpo de Bombeiros de Carcavelos e São Domingos de Rana não tem qualquer dispositivo implementado na Praia de Carcavelos, desde 2019, na sequência do fim do apoio da autarquia a esse dispositivo. Até 2019, esse dispositivo assegurava a permanência de dois Bombeiros no nosso Posto de Socorros na praia, sendo reforçado aos fins-de-semana por uma ambulância em permanência e uma embarcação de socorro com um nadador-salvador, em vigilância permanente no mar.
Actualmente, sempre que existe alguma ocorrência na Praia, os nossos meios são accionados do quartel.
CL – Quais os meios da corporação que vão estar em prontidão operacional para a época de incêndios?
PDS – O nosso empenhamento no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais tem vindo a aumentar nos últimos anos. Assim, entre 1 de Julho e 30 de Setembro, teremos em permanência no quartel (24h/24h): uma equipa de combate a incêndios (veículo florestal e cinco Bombeiros) e uma equipa de apoio ao combate (veículo tanque e dois Bombeiros).
Destaco o apoio do Hotel Riviera, em Carcavelos, que há vários anos apoia este dispositivo, fornecendo diariamente os almoços a estas equipas. Este ano, serão mais de 644 refeições oferecidas aos nossos Bombeiros, facto que merece a nossa admiração.
Celebrámos ainda um protocolo com a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, integrando um grupo de ataque ampliado para reforço dos teatros de operações em todo o território nacional, que consiste em: uma equipa de combate a incêndios (veículo florestal e cinco Bombeiros) e uma equipa de comando (veículo de comando, um elemento do comando e um Bombeiro).