As míticas Grutas Naturais do Poço Velho, bem no centro da vila de Cascais, que estiveram durante bastante tempo encerradas ao público, voltaram a ser reabertas para visitas regulares que podem ser realizadas aos fins-de-semana e feriados, no período entre as 14h00 e as 18h00. A entrada é livre.
Este importante monumento, onde foram recolhidos vestígios arqueológicos datados desde o Paleolítico até à Antiguidade Tardia, que tem suscitado desde há largas décadas a curiosidade de muitos investigadores e curiosos em conhecer a sua História, foi alvo de obras de requalificação para dotar o espaço de melhores condições para ser visitado.
“Com as obras que agora terminaram, abre-se um capítulo novo na política cultural e patrimonial local, devolvendo a Cascais e aos cascalenses aquele que é porventura o mais significante e impactante monumento arqueológico da nossa terra”, anunciou a Câmara Municipal de Cascais (CMC) na sua página na Internet.
De acordo com a explicação avançada por Severino Rodrigues, Chefe da Divisão de Arqueologia e Património Histórico da autarquia, a intervenção que agora terminou foi planeada e concretizada para ser “o mais minimalista possível”, com o propósito de “devolver a integridade ao monumento”.
Nessa medida, ressalva o mesmo responsável quanto às obras realizadas: “Tudo o que fizemos foi assentar coisas sobre a gruta, ou seja, nada interferiu directamente com as paredes ou com o solo da gruta. Não houve intervenção no solo, não houve intervenção nas paredes, foi tudo pousado sobre a gruta.”
Com base na intervenção de requalificação operada, foi instalado um passadiço com escadas que permite a fácil circulação dos visitantes dentro da gruta, que passou a contar também com um novo sistema de iluminação criado especialmente para melhorar a experiência proporcionada pela visita.
O Chefe da Divisão de Arqueologia e Património Histórico da autarquia cascalense realça que o projecto de iluminação instalado no interior do espaço museológico, desenvolvido por um designer desta área, potenciou a gruta: “Quem a viu e quem a vê parece que cresceu duas ou três vezes.”
Além da sensação de aumento do espaço proporcionada pelos jogos de luz construídos com a nova iluminação, que potenciam toda a amplitude da gruta, os novos efeitos de luz instalados “permitem também ao visitante observar muitos mais pormenores do monumento”, destaca Severino Rodrigues.
SÍMBOLO DA HISTÓRIA DA VILA
Um dos principais símbolos da História de Cascais, as Grutas Naturais do Poço Velho localizam-se na margem direita da Ribeira das Vinhas (Largo das Grutas, nas traseiras do Edifício S. José), a cerca de 500 metros da sua foz, na Praia da Ribeira, no centro da vila. Actualmente, o acesso à rede de galerias faz-se por duas entradas diferentes.
As grutas foram exploradas, pela primeira vez, em 1879, pelo geólogo Carlos Ribeiro (1813-1882), apontado como o ‘fundador’ da Arqueologia Cascalense, que detectou nos sedimentos que preenchiam o solo no interior das galerias vestígios arqueológicos desde o Paleolítico até à Antiguidade Tardia.
Em trabalhos de exploração realizados posteriormente, veio a confirmar-se que a principal ocupação data do final do Neolítico e durante o Calcolítico, correspondentes aos quarto e terceiro milénios antes de Cristo (a.C.). Este período corresponde à utilização da gruta como necrópole, tendo sido referenciada mais de uma centena de enterramentos.
Entre 1945 e 1947, o engenheiro Augusto Abreu Nunes (1891-1966) promoveu novas escavações no monumento. Os trabalhos permitiram recolher um diversificado espólio funerário, que inclui artefactos de pedra polida e lascada, artefactos votivos de calcário, placas de xisto decoradas, elementos de adorno e cerâmica.
Algum do espólio recolhido durante os vários trabalhos arqueológicos realizados nas Grutas Naturais do Poço Velho encontra-se exposto ao público no Museu da Vila de Cascais, instalado no edifício dos Paços do Concelho (Praça 5 de Outubro), podendo ser visitado (entrada livre) de terça-feira a domingo, entre as 10h00 e as 18h00.
MITOS E ESTÓRIAS ANTIGAS
Durante muitos anos, as Grutas Naturais do Poço Velho deram origem a uma série de lendas e mitos, baseados em estórias contadas pelos mais antigos. Algumas das mais famosas davam conta da existência de caminhos secretos que iam dar até ao Guincho e à Boca do Inferno.
Lendas e mitos aparte, a simbologia aliada a este importante sítio arqueológico é grande para os cascalenses, por ser visto como o berço onde Cascais nasceu, onde foi identificado o registo mais antigo da presença humana na vila, numa época compreendida entre 10.000 a.C. e 4.000 a.C..
POÇO VELHO
As grutas, com cerca de 50 metros de extensão, ficaram a dever o seu nome ao facto de existir na zona um conjunto de poços que forneciam água aos habitantes da vila. Ao que tudo indica, esses poços ficaram inactivos no seguimento do Terramoto de 1755, que afectou gravemente toda a região de Lisboa, alterando os lençóis freáticos ali existentes.