A Subcomissária Nina Elizete Antunes Ribeiro assumiu funções como Chefe de Divisão da Polícia Municipal de Cascais em Janeiro deste ano, concretizando o mais recente passo de uma carreira iniciada em 2009, ano em que completou o Curso de Formação de Agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP). Ao longo do trajecto, realizou o Mestrado Integrado em Ciências Policiais e Segurança Interna (2014/2019) no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, tendo escrito a dissertação de mestrado ‘Investigação Criminal na PSP: Formação do agente não investigador para a abordagem inicial ao local do crime’.
Enquanto agente da PSP, Nina Ribeiro passou pela 50.ª Esquadra – Cascais (2009-2010), Esquadra de Investigação Criminal de Cascais – Secção de Inquéritos (2010/2011) e Brigada de Investigação Criminal – Droga (2011/2014), no âmbito do crime de tráfico de estupefacientes. Enquanto oficial da PSP, entre Julho de 2019 e Julho de 2020, integrou a 1.ª Divisão Policial do COMETLIS (Comando Metropolitano de Lisboa), assumindo o comando da 3.ª Esquadra – Bairro Alto e da 22.ª Esquadra – Rato. Entre Julho e Dezembro de 2020, assumiu o comando da 2.ª Esquadra – Monte Abraão e da 3.ª Esquadra – Oeiras, até ser convidada para chefiar a Divisão da Polícia Municipal de Cascais, no início de 2021.
O Jornal ‘O Correio da Linha’ falou com a Subcomissária sobre o seu percurso profissional e sobre esta nova etapa da sua carreira enquanto agente policial, numa fase em que teve de enfrentar os desafios lançados pela crise sanitária que atravessamos e que implicaram muitas adaptações sociais, nomeadamente devido ao confinamento a que todos estivemos sujeitos. As expectativas quanto ao futuro numa carreira escolhida com base numa opção pessoal, alimentada por um desejo que despontou quando ainda era criança, são algumas das notas dominantes de uma troca de ideias que aqui publicamos.
Jornal ‘Correio da Linha’ (CL) – Depois de uma passagem pelos comandos de várias Esquadras, nomeadamente do Bairro Alto, como tem sido esta experiência como Chefe de Divisão da Polícia Municipal de Cascais?
Nina Ribeiro (NR) – A experiência tem sido muito boa e desafiante. Estamos perante duas experiências completamente distintas. No que concerne à 3.ª Esquadra – Bairro Alto, pertencente à 1.ª Divisão Policial do COMETLIS, só quem vive a experiência de trabalhar naquela área entende. Vive-se uma dinâmica muito carismática, uma grande diversidade de ocorrências que nos enriquecem muito pessoalmente e profissionalmente, independentemente dos nossos postos na hierarquia ou experiência de serviço.
Estamos a falar de uma área com muito turismo, vida nocturna muito activa, imigrantes oriundos de diferentes partes do Mundo, onde diariamente nos deparamos com os mais diversificados problemas para resolver, mas também nos permite conviver com pessoas de diferentes culturas e com diferentes perspectivas de vida. Diariamente, lidamos com manifestações, policiamentos com diferentes enquadramentos policiais. Na verdade, estamos onde tudo acontece.
Por outro lado, agora, enquanto Chefe de Divisão da Polícia Municipal de Cascais, tenho a oportunidade de conhecer e aprender com outra realidade diferente. Cascais e Lisboa vivem realidades e dinâmicas muito diferentes. Também as competências legais das polícias são diferentes, o que me permite aprender muito sobre matérias que não trabalhava enquanto comandante de esquadra na PSP. Acredito que irei alcançar muito a nível profissional com a conjugação destas duas realidades tão distintas e, assim, tornar-me melhor oficial e melhor pessoa.
CL – Qual foi o maior desafio com que teve de lidar à frente da 3.ª Esquadra da PSP de Lisboa?
NR – Na 3.ª Esquadra – Bairro Alto foram vários e diversos os desafios diários, mas considero que o maior desafio que qualquer comandante de esquadra enfrenta se relaciona com a relação que cria com os elementos que comanda, pois devemos ser comandantes assertivos, ponderados e bons líderes. Sermos apreciados como exemplo e conseguirmos estar sempre presentes quando é necessário. Considero que, enquanto comandante, tenho de garantir o bem-estar e a motivação dos meus polícias, porque só assim estarão com capacidade para ajudar o cidadão em geral, cumprir a sua missão. Acredito que consegui!
CL – Como foi gerir uma esquadra com as exigências da Unidade do Bairro Alto em tempo de pandemia COVID-19? O que foi mais difícil de concretizar durante o estado de emergência e de obrigatoriedade de confinamento?
NR – A realidade alterou por completo porque os estabelecimentos encerraram na sua maioria, o Turismo desapareceu, as ruas ficaram desertas. Tudo era inesperado e novo para todos nós. Sim, para todos nós, porque embora polícias não deixamos de ser pessoas, de ter as nossas famílias e termos o receio do que poderia suceder connosco, mas sobretudo com os nossos. Não podemos esquecer que estivemos e estamos sempre no terreno em prol do bem-estar de todos nós. Sofremos uma alteração considerada na dinâmica da esquadra, no nosso serviço operacional, porque o que prevalecia era garantir uma abordagem preventiva e pedagógica junto do cidadão em geral através de policiamentos dirigidos à situação pandémica que surgia. Mas, quando necessário e devido aos incumprimentos, tornava-se por vezes indispensável uma abordagem mais assertiva. Considero que a nível operacional o efectivo da Esquadra do Bairro Alto adaptou-se muito bem, porque na verdade é uma esquadra com um volume de trabalho, exigência e operacionalidade muito elevados, em suma ‘Instrução dura, combate fácil’.
CL – Foram passadas muitas multas/autos por falta de cumprimento dos cidadãos, numa zona de Lisboa em que as pessoas estavam/estão tão habituadas a circular nas ruas?
NR – A Polícia de Segurança Pública aplicou uma abordagem preventiva e pedagógica junto do cidadão em geral no que diz respeito a medidas impostas no âmbito da pandemia, todavia, não foi necessário utilizar essa forma coerciva muitas vezes.
“QUANTIDADE NÃO SE TRADUZ EM QUALIDADE”
CL – Como surgiu a oportunidade/convite para ingressar na Polícia Municipal de Cascais?
NR – A oportunidade surgiu quando menos esperava e de forma muito natural. O meu comandante de divisão na Divisão de Segurança a Transportes Públicos, Sr. Intendente Jerónimo Torrado, foi convidado para assumir a função de Director do Departamento de Polícia Municipal e Fiscalização na Câmara Municipal de Cascais e convidou-me para fazer parte da sua equipa de trabalho enquanto Chefe de Divisão da Polícia Municipal.
CL – Quais vão ser as suas principais linhas de orientação como Chefe de Divisão da Polícia Municipal de Cascais? Que medidas vão merecer mais preocupação?
NR – Na Polícia Municipal, enquanto Chefe de Divisão, a minha principal preocupação será garantir o bem-estar do meu efectivo, o seu bem-estar enquanto profissionais e pessoas, pois acredito que pessoas bem formadas e motivadas têm as condições criadas para serem excelentes polícias, ou seja características essenciais que prezo sempre ter enquanto comandante de qualquer polícia. Considero que a quantidade não se traduz em qualidade, mas torna-se importante adaptar os meios humanos e materiais às necessidades do município. A Polícia Municipal de Cascais, dentro das suas competências, tem desenvolvido muito trabalho em diferentes matérias e é minha intenção apoiar e desenvolver ainda mais o trabalho anteriormente iniciado.
CL – Que situações mais suscitam a intervenção da Polícia Municipal em Cascais? A que tipo de eventos são mais chamados?
NR – A Polícia Municipal de Cascais tem um grande conjunto de matérias a trabalhar e dar resposta. Intervimos em diversas situações, nomeadamente trânsito, ambiente, animais, apoio às forças e serviços de segurança e nesta fase pandémica que vivemos também desenvolvemos muito trabalho neste âmbito.
CL – No domínio das fiscalizações, que actos ilegais têm ocorrido com maior frequência?
NR – No âmbito das nossas competências de fiscalização considero que tudo se mantém dentro dos parâmetros considerados expectáveis, pois sabemos que existirão sempre incumprimentos em diferentes domínios. Se assim não fosse, não existiriam Polícias. Onde os números merecem mais destaque será no âmbito da situação pandémica que vivemos, porque infelizmente ainda existem pessoas que insistem em não cumprir com as medidas impostas pela legislação, nomeadamente o consumo de bebidas alcoólicas na via pública e o uso de equipamento de protecção individual, designadamente máscara.
CL – Se lhe fosse possível, quais os meios que escolhia para reforçar a intervenção da Polícia Municipal de Cascais nas suas várias missões?
NR – A Polícia Municipal de Cascais é uma polícia com muito potencial, pelo que escolheria o ingresso de mais elementos para reforçar e criar mais equipas, sobretudo na área ambiental. Mas a minha opção primordial seria consolidar formação em formação continua.
CL – Pode revelar-nos um episódio curioso que tenha ocorrido ao longo da sua carreira?
NR – Considero que o episódio mais curioso na minha curta carreira policial foi o desafio de comandar a Polícia Municipal da minha terra. Foi uma coincidência que me deixou muito feliz e um convite que não pude recusar porque após ter iniciado a minha carreira, enquanto agente da PSP, na minha terra volto como oficial de polícia e para encarar um desafio novo e desconhecido.
CL – Durante a sua formação, qual foi a prova mais difícil que teve de enfrentar?
NR – Na minha formação não considero ter existido uma prova que se destaque como tendo sido a mais difícil. A nossa formação enquanto oficiais é em regime de internato e muito intensiva, pelo que, por vezes temos dias menos bons. Mas é assim que crescemos enquanto pessoas e futuros oficiais.
“SOUBE DESDE CRIANÇA QUE QUERIA SEGUIR ESTA ÁREA”
CL – A opção por seguir uma carreira policial foi influenciada por algum familiar com ligações às forças da ordem?
NR – Desde criança que sabia que queria seguir esta área, não tive qualquer influencia. Na minha família não existem polícias e sou a única mulher com percurso militar e/ou policial.
CL – Na sua opinião, quais devem ser as principais características/atributos de um agente policial?
NR – Na minha opinião será a confiança, honestidade, lealdade e perseverança.
CL – Quais são as principais dificuldades que um agente policial enfrenta no desempenho das suas missões?
NR – As dificuldades podem ser muito diversificadas, porque depende do enquadramento pessoal e profissional de cada um de nós, polícias. No entanto, a dificuldade que considero ser importante destacar passa pela falta de reconhecimento e compreensão de que por vezes somos alvo quando na verdade pertencemos ao grupo de cidadãos que trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano em prol do bem-estar de todos e não deixamos de ser seres humanos, pessoas iguais às restantes, com virtudes e defeitos.
CL – O que falta fazer para que os agentes policiais se sintam mais compreendidos/acarinhados pelos cidadãos, para fortalecer a relação entre a População e a Autoridade? Na sua opinião, que mensagem deve ser passada?
NR – A mensagem que deverá ser passada é que qualquer polícia, seja Órgão de Polícia Criminal ou não, trabalha em prol do bem comum, da segurança de todos nós e com todos os cidadãos.
CL – Escreveu uma dissertação de mestrado no âmbito do XXXI Curso de Formação de Oficiais de Polícia, intitulada ‘Investigação Criminal na PSP: Formação do agente não investigador para a abordagem inicial ao local do crime’, apresentada em 2019. Quais os principais cuidados que um agente deve ter nessa circunstância?
NR – O agente não investigador é o agente que não desempenha especificamente a actividade de investigação criminal, por não pertencer a estrutura institucional incumbida desta actividade. No entanto, é normalmente o primeiro polícia a ter conhecimento do crime e por isso a deslocar-se para o local. Compete-lhe realizar os primeiros procedimentos de preservação do local do crime e os primeiros actos cautelares, fundamentais para a conservação e manutenção da prova, que irá servir para a descoberta da verdade.
CL – Gostaria de poder vir a desempenhar uma carreira nesta linha de investigação criminal, no seio da PSP?
NR – A minha escolha de tema deveu-se ao facto de considerar a formação um dos pilares estruturantes de qualquer polícia e desta forma dar o meu contributo, e também porque gostaria de futuramente voltar à estrutura da investigação criminal da Polícia de Segurança Pública, nomeadamente no Departamento de Investigação Criminal.
CL – Na sua opinião, as forças policiais têm conseguido adaptar-se convenientemente às exigências de uma sociedade que tem vindo a evoluir muito rapidamente (para o bem e para o mal) nas últimas décadas, nomeadamente devido às evoluções tecnológicas registadas?
NR – Considero que as forças policias têm conseguido manter a prontidão e o conhecimento adequado à referida evolução, no que concerne à instituição e também ao efectivo individualmente.
CL – O que mais gosta em Cascais? E o que gosta menos?
NR – Esta questão poderá levar-me a uma resposta tendenciosa, porque Cascais foi a terra que me viu crescer enquanto pessoa e enquanto Polícia. Considero-me Cascalense e gosto muito da minha terra.