Completam-se este ano 500 anos desde a criação dos serviços postais em Portugal. Uma efeméride que os CTT Correios de Portugal têm orgulho de assinalar pelo valor histórico que representa num percurso que atravessou gerações e mudou tantas vidas. Apesar das limitações e restrições impostas pela fase epidémica que o Mundo atravessa, a empresa não deixou de festejar esta etapa marcante do seu historial.
O ponto alto das celebrações dos 500 Anos do Correio em Portugal está marcado para o próximo mês Novembro. O jornal ‘O Correio da Linha’ foi saber junto de Raul Moreira, Director de Filatelia dos CTT Correios de Portugal, de que forma a empresa está a festejar os seus 500 anos de existência nesta complicada época que atravessamos e o que está a ser preparado para o futuro desta marca de referência no nosso tecido empresarial.
Jornal ‘O Correio da Linha’ (CL) – Qual o momento principal das comemorações dos 500 Anos de Correio em Portugal?
Raul Moreira (RM) – A data exacta da efeméride é o dia 6 de Novembro de 1520, em que D. Manuel I assinou em Évora a carta da sua chancelaria que nomeava Luis Homem como o 1º Correio-Mor do Reino. Por esse motivo estamos a prever realizar nessa data – 6 novembro 2020 – a inauguração, na Torre do Tombo, em Lisboa, de uma importante Exposição iconográfica e documental com todos os originais dos documentos antigos que contam a história desses cinco séculos.
CL – Num ano fortemente marcado pela pandemia COVID-19, de que forma é que isso tem condicionado as comemorações?
RM– De facto a pandemia afectou o programa das comemorações, dado que a presença de público – e a presença dos Meios de Comunicação Social – se tornava fundamental para o sucesso dos eventos.
CL – Foi preciso cancelar/adiar muitos eventos que estavam programados?
RM– Adiámos para 2021 a realização de uma das mais importantes exposições filatélicas da Europa (prevista para 2020). A Lubrapex – Exposição Luso-Brasileira de Filatelia, que neste ano especial das comemorações seria aberta a toda a lusofonia. Será na cidade de Évora entre 5 e 10 de Outubro de 2021. De igual forma, uma das mostras iconográficas prevista para a Fundação Portuguesa das Comunicações – que iria apresentar ao público os 64 grandes prémios internacionais que o design da filatelia dos CTT ganhou ao longo da sua história – foi adiada para 2021.
CL – Que emissões especiais de selos estão preparadas para lançar ou já foram lançadas alusivas a esta efeméride?
RM– Serão lançadas no dia 9 de Outubro (Dia Mundial de Correios) duas emissões especiais de selos. Uma delas, a emissão ‘Obrigado Portugueses’, não será vendida. Pela primeira vez em Portugal, esta peça vai ser oferecida a todos os que entrarem nas Lojas dos CTT entre os dias 9 de Outubro e 6 de Novembro. Será uma booklet que contém um desenho original de mestre João Machado, e que apresenta um selo auto-adesivo que permite ser utilizado para franquiar cartas e bilhetes postais para qualquer destino dentro de Portugal.
A outra emissão especial dos 500 Anos será um conjunto de cinco selos e de um bloco filatélico onde os selos pretendem ser uma homenagem aos trabalhadores dos CTT que continuaram a trabalhar durante a crise do COVID-19, mas que tem ainda a particularidade do bloco filatélico conter uma aplicação em ‘grafeno’ – novidade mundial absoluta. O grafeno (forma cristalina do carbono) é um material mais resistente que o aço, moldável e não poluente, que permite alojar circuitos de informação digital. Neste caso vamos inscrever no grafeno um poema de Miguel Torga alusivo à situação actual – ‘Contágio’, que é uma mensagem de esperança para o futuro. O poema será descodificado com uma aplicação ‘CTT Filatelia’ a descarregar da Internet através de um smartphone ou tablet.
Para além disso, vamos também editar dois livros com selos dentro: Um deles, já em Outubro de 2020, sobre a história dos 500 Anos do Correio em Portugal, da autoria do historiador e antigo Conservador do Museu dos CTT, Fernando Moura. O outro, intitulado ‘A Memória dos CTT’, está previsto para Fevereiro de 2021, e será uma recolha de testemunhos de muitas dezenas de trabalhadores dos CTT.
“GRANDES DESAFIOS TRAZEM OPORTUNIDADES”
CL – Numa altura em que se festejam 500 Anos, como é que os CTT perspectivam o seu futuro num mundo em que cada vez se enviam menos cartas?
RM– Todos os grandes desafios trazem oportunidades. Entre outras que se manifestam, talvez a maior – a grande oportunidade para uma empresa como a nossa, líder incontestada do contacto de proximidade em Portugal – será apresentar-se no mercado como o mais eficiente e global operador logístico de encomendas e outros objectos, parceiro fundamental para todos os negócios de e-commerce que envolvam vendas à distância de produtos físicos.
CL – De que forma os CTT podem concorrer com os meios digitais, ou tirar partido deles?
RM– Como referido no ponto anterior, utilizando a sua ampla rede de distribuição porta-a-porta para facilitar as operações de venda à distância através de todos os meios existentes, sobretudo os que utilizam catálogos virtuais.
CL – No âmbito das comemorações dos 500 Anos do Correio em Portugal, os CTT apresentam uma identidade visual comemorativa que assinala a data. Quem foi responsável por esta imagem e qual o seu significado/leitura?
RM– A agência responsável pelo desenvolvimento do conceito criativo do Logo ‘CTT-500 Anos’ foi a HAVAS. A marca CTT surge com uma nova assinatura: “a nossa entrega é total”, visando transmitir uma imagem mais próxima e relacional, traduzindo a “confiança” que sempre foi o principal activo da empresa. Mais do que um novo posicionamento de marca, a mudança simboliza a nova fase dos CTT, virados definitivamente para a modernidade e para as novas tecnologias, sem desprezar a sua longa história no ano em que se celebram 500 Anos de actividade postal em Portugal.
CL – Os CTT têm mostrado uma preocupação com a sustentabilidade e a necessidade de utilizar energias limpas. O que tem sido feito neste domínio e está previsto no futuro?
RM– É difícil dar uma resposta limitada ao espaço que uma edição de jornal exige. De todas as formas e em traços muito largos: O combate às alterações climáticas é considerado pelos CTT como um tema de relevância crescente, para a sociedade e para as empresas, tendo os CTT obtido o nível de Liderança (A-) no mais importante índice bolsista carbónico internacional, o Carbon Disclosure Project, desde 2018. Os CTT integram um grupo de apenas 326 empresas em todo o Mundo com metas ambiciosas de redução de emissões carbónicas aprovadas pela SBTi – Science Based Target Initiative, e aderiram à iniciativa Business Ambition for 1.5ºC, do United Nations Global Compact, com o objectivo de contribuir para travar o aquecimento global.
Por outro lado, os CTT são também considerados o quinto operador postal com melhor desempenho carbónico a nível mundial (ranking de proficiência carbónica EMMS-Environmental Measurement and Monitoring System) do IPC (International Post Corporation)], tendo registado uma expressiva redução de emissões carbónicas (-64%, de 2008 a 2018). Actualmente, os CTT adquirem energia verde para 100% da sua actividade e possuem a maior frota ecológica de transporte e distribuição de Portugal, com mais de três centenas de veículos.
EMPRESA INTERROMPEU ENCERRAMENTO DE LOJAS
CL – Nos anos mais recentes, os CTT encerraram balcões em várias localidades, o que tem gerou críticas junto das populações. Estão previstos mais encerramentos no futuro?
RM– Há mais de um ano que a empresa, sob uma nova liderança, interrompeu definitivamente o encerramento de lojas e passou, pelo contrário, a reabrir lojas encerradas, nomeadamente em concelhos que apenas ficaram servidos por postos de correio. A estratégia atual dos CTT vai no sentido de reabrir as lojas onde uma análise actual de rentabilidade da operação é também ponderada pela necessidade de prestarmos o melhor serviço possível de proximidade às populações.
CL – Com quantos empregados e lojas contam os CTT na actualidade?
RM– Somos cerca de 12.000 trabalhadores. E operamos mais de 2.500 pontos de acesso à nossa rede, contando não só as Lojas CTT como também os Postos de Correio. Dispomos ainda de cerca de 5.000 pontos de presença com terminais ‘Payshop’.
CL – Os CTT têm apostado na diversificação dos seus serviços? Em que produtos mais têm investido?
RM– Para além da irreversível aposta na logística de encomendas e outros objectos postais muito ligados (mas não só) ao E-Commerce, os CTT lançaram em 2016 o Banco CTT, ponta-de-lança da nossa presença de mais de 100 anos na prestação de serviços financeiros à população e que se revelou um negócio muito importante para o futuro da empresa. O Banco adquiriu 500 mil clientes em apenas quatro anos e foi recentemente eleito Banco nº1 na Satisfação do Cliente pelo Prémio ECSI Portugal (Índice Nacional de Satisfação de Cliente) no sector da Banca.
Estamos igualmente a desenvolver parcerias na animação de ‘market places’ virtuais que permitam impulsionar as trocas comerciais por essas vias. De facto, os CTT são os líderes claros na promoção do comércio electrónico em Portugal, tanto na disponibilização do grande ‘marketplace digital’ dos portugueses para os portugueses (em parceria com a SONAE), como na criação de Lojas Online CTT (com cerca de 1100 PME já registadas e perto de 300 lojas já a comercializar) e ainda pela nova app CTT Comércio Local, dirigido aos pequenos comerciantes de todo o País, e que arrancou em Viseu e nas Caldas da Rainha, com muitos outros municípios já em negociação para a sua adopção.
CL – Em termos globais, que percentagem representa a correspondência no total da facturação dos CTT? Ainda é o principal negócio da empresa?
RM– O correio tradicional, entendido em todas as suas vertentes de objectos ‘finos’ ou ‘grossos’, expedidos por particulares ou por empresas e entidades públicas, ainda é a mais importante fonte de receitas dos CTT, com cerca de 50% dos proveitos.
CL – Quais os principais patrocínios e apoios concedidos pelos CTT neste e no próximo ano?
RM– Numa altura em que a política de apoios e de patrocínios tem de ser reavaliada face à limitação de meios disponíveis, a estratégia dos CTT para esta vertente da sua actividade passará cada vez mais por valorizarem as propostas de carácter humanitário e solidário, socialmente significativas e de âmbito sustentável em termos ambientais.
CL – Recentemente, os CTT lançaram uma emissão de selos com aroma relacionados com a gastronomia tradicional mediterrânica. Estão previstas outras iniciativas do género?
RM– A inovação em Filatelia faz parte do nosso ADN. Por isso, sim, vamos continuar com essas novidades em selos da República. Por exemplo, está já prevista a emissão com ‘grafeno’ que já referi, em Outubro deste ano.
CL – As pessoas continuam a comprar selos para coleccionar e para colar nos envelopes das cartas que enviam? Ou isso está a ficar fora de moda?
RM– Os selos são hoje sobretudo objectos atraentes para coleccionar ou para recordar eventos e situações que sejam próximas dos ‘afectos’ dos nossos clientes, mas a sua utilização para franquiar correspondência ainda se mantém, embora com menor frequência do que em décadas passadas. Estimamos que dos dois a três milhões de objectos que tratamos diariamente, cerca de 12.000 sejam ainda franquiados com selos ou franquias ilustradas de máquinas automáticas.
SELOS COM AROMA MEDITERRÂNICO
Recentemente, os CTT apresentaram uma emissão filatélica especial dedicada à gastronomia tradicional mediterrânea, com o lançamento de dois selos com aromas alusivos ao famoso Arroz Doce à Estoiense (oriundo de Estoi, uma localidade no concelho de Faro), e ao Licor de Flor de Laranjeira, com antecedentes numa receita inglesa de 1727.
Os dois selos foram impressos incorporando no processo de produção um aroma a flor de laranjeira que se mantém activo por muito tempo, tornando esta emissão numa original e aromática edição filatélica. Os dois selos, um de envio nacional até 20g e outro para envio para o resto do Mundo também até 20g, têm uma tiragem de 100 mil exemplares cada.