A Fotografia está habitualmente relacionada com Viagens. Desde sempre, o Homem desejou guardar na memória instantes mágicos das suas aventuras fora de portas. Primeiro com as pinturas rupestres que deixaram marca desde a Pré-história. Mais tarde, com as paisagens bucólicas que ainda hoje enchem galerias de museus em todo o Mundo. Mais recentemente, os instantes capturados pelo obturador das máquinas fotográficas vieram facilitar todo o processo de registo à prova das falibilidades da nossa memória, que conta agora com uma ‘arma’ ainda mais disponível e acessível: o telemóvel, companheiro inseparável do Homem moderno.
José Godinho é um apaixonado por Fotografia e Viagens. Para este antigo informático e contabilista, de 59 anos, ir é sempre o melhor remédio, sem esquecer nunca a máquina fotográfica. As fotografias que costuma trazer na bagagem têm enchido páginas de vários livros. Entretanto, o hobby foi crescendo de dimensão e o fotógrafo amador tornou-se editor de livros de Fotografia, dando a conhecer muitos outros amantes do clique. GOD Publishing é o selo deste editor nascido em Moçambique, que viveu também na Rodésia e na África do Sul, antes de decidir fixar residência na Amadora em 1987, onde tem também instalada a sede da sua editora, lançada no início deste ano.
Jornal O Correio da Linha (CL) – O que o levou a lançar esta nova editora?
José Godinho (JG)– O gosto pela Fotografia aliado à vontade de criar algo diferente. Reformado, sempre tive vontade de ocupar o meu tempo a fazer o que gosto, que é tudo o que esteja relacionado com a Fotografia. Após dois anos como editor, começava a sentir-me preso a ideias que não eram as minhas, a querer fazer mais e poder arriscar. Senti a necessidade de ser livre para fazer as ‘coisas’ à minha maneira.
CL – O que vai diferenciar esta nova editora? O que vai fazer diferente?
JG – O mecenato cultural só existe para alguns e a Fotografia, infelizmente e injustamente, sempre foi o parente pobre da Cultura. O nosso sistema de publicação ainda implica uma forte e imprescindível promoção por parte do autor de cada livro, com os principais interessados a serem todos aqueles que fazem parte do seu ‘círculo de contactos’. Um dos nossos primordiais objectivos foi conseguir aliar a nossa criatividade de design nos livros à melhor qualidade de impressão digital/custo de produção. Creio que conseguimos, finalmente, atingir esse patamar. Somos uma editora com Publicações Print-on-demand para autores independentes em todo o Mundo. Seria importante conseguirmos alguns patrocínios. Tento conseguir salas para exposições colectivas com o intuito de dar a conhecer o trabalho dos autores com quem trabalho. Estou a dar espaço a quem comigo colabora nesta editora para podermos oferecer um trabalho mais criativo e personalizado.
CL – Que tipo de obras pretende editar?
JG – Várias colectâneas temáticas com vários autores, para além de livros de autor, fotografia e texto.
CL – Quais os livros já publicados?
JG – Como editor, tenho cerca de 40 livros publicados no passado recente. Desde Janeiro, com a GOD Publishing, tenho cinco livros de Fotografia publicados.
LIVROS EM CARTEIRA PARA FUTURA EDIÇÃO
CL – Quais os livros em agenda para publicar?
JG – Com o livro ‘O Nosso Olhar no Mundo’, uma colectânea com 15 fotógrafos que foi apresentado em Maio passado, senti necessidade de continuar com este projecto em livro, estando já programado o segundo volume para Janeiro de 2020, o terceiro e quarto volumes para Maio e Setembro desse mesmo ano. Entretanto, foi apresentado em Julho o primeiro volume de uma outra colectânea com 15 autores, “A Arte de Fotografar P&B”, projecto também programado para ter continuidade durante 2020. Tenho igualmente dois títulos a serem preparados, ‘Arte Urbana’ e ‘Recortes Urbanos’, que irão contar com a participação de alguns fotógrafos nesta área. Acaba também de ser publicado um livro de Luís Casaca, ‘No Silêncio de um Olhar’, com paisagens do Algarve. E, ainda este ano, vai ser lançado um livro meu de Fotografia de Viagens com imagens de alguns lugares por onde passei. Há ainda outros projectos em fase inicial.
CL – Como vai ser assegurada a distribuição dos livros? Onde podem ser adquiridos?
JG – Até agora, todos os livros apenas podiam ser adquiridos através dos autores ou da editora GOD Publishing. Em Setembro ou Outubro, irei apresentar na FNAC Colombo a segunda edição dos livros ‘O Nosso Olhar no Mundo’ e ‘A Arte de Fotografar P&B’. Ambos vão estar disponíveis em várias lojas FNAC. Estou a contactar várias editoras e espaços públicos no sentido de poder vir a ter os livros aí comercializados futuramente. Os livros têm nº de ISBN e código de barras. Seria bom para todos ter os nossos livros à venda em espaços públicos. Para isso tenho feito alguns exemplares extras de cada livro com a esperança de que sejam aceites, mesmo que seja à consignação.
CL – Conta com o apoio de alguma entidade?
JG – Tenho tido alguns apoios no que se refere a espaços para apresentações dos livros, nomeadamente da Junta de Freguesia de Casal de Cambra, da União de freguesias de Sintra e, mais recente, da Câmara Municipal de Sintra, onde apresentei o livro coletivo ‘A Arte de Fotografar P&B’, no Museu de Artes de Sintra (MU.SA), no dia 6 de Julho.
CL – Estando sediada na Amadora, a GOD Publishing tem previsto editar algum livro dedicado a este concelho?
JG – Sim, ando a recolher material para um livro de fotografias sobre Arte Urbana na Amadora.
CL – O José tem duas grandes paixões: Viagens e Fotografia. O que significa para si a Fotografia?
JG – A minha paixão pela Fotografia cresce paralelamente ao gosto de viajar. Sempre tive muita vontade de conhecer e viver novas experiências e de transmitir aos outros o melhor dessas vivências, do que vi e conheci. Para mim, a Fotografia é instintiva, não é algo que visa apenas recordar um momento em particular, mas antes uma arte que junta vários factores. Quando viajo quase vivo através das lentes. E assim como os textos, cada fotografia tem uma narrativa, como tal conta a sua própria história, basta aprender a ler (olhar) para as interpretar.
“APRENDI A GOSTAR DE VÁRIOS TIPOS DE FOTOGRAFIA”
CL – Que tipos de Fotografia mais o atraem como fotógrafo?
JG – Com o trabalho que faço aprendi a gostar de vários tipos de Fotografia, mas aquele que mais me atrai continua a ser o de Viagem/Paisagem, embora esteja em crescente o gosto pelo Street, Macro, Retrato e Natureza.
CL – Desde quando faz Fotografia?
JG – Desde criança, mas com mais vontade de evoluir desde 2008.
CL – Quais são os seus fotógrafos preferidos?
JG – Vários: Steve McCurry, Réhahn, Jimmy Nelson, Joel Santos e muitos mais. Vários fotógrafos ditos ‘amadores’ em Portugal, cujo trabalho também admiro. Já tive oportunidade de trabalhar com alguns deles.
CL – Consegue descrever a fotografia que ainda não tirou mas gostava um dia de tirar?
JG – São muitas as que gostaria de ter, de lugares que ainda não conheci, sinto essa falta.
CL – Qual o seu destino de viagem preferido?
JG – Gostava de me aventurar pela Patagónia.
CL – Conte-nos uma história que mais o tenha marcado durante as suas viagens.
JG – Irei sempre recordar uma das minhas viagens… A sensação que foi acordar de manhã, sair para a rua e presenciar aquela paisagem diante dos meus olhos. Veneza foi diferente por ser diferente, viver tudo de uma forma diferente, os carros serem substituídos por barcos, as ambulâncias, os táxi, as casas com as garagens, a luz ao pôr do sol. Naquela altura marcou-me.
CL – Quais os países que ainda não tenha visitado que mais gostaria de conhecer? Qual a sua viagem de sonho?
JG – Índia, Camboja, Japão, China. Todas elas representam um sonho a concretizar. Mas no topo, neste momento, está a Patagónia.
“FAZEM FALTA MELHORES TRANSPORTES PÚBLICOS”
CL – O que a levou a optar por viver na Amadora?
JG – Na altura tinha familiares a residirem neste concelho. Isso pesou bastante na minha decisão.
CL – O que gosta mais na Amadora?
JG – O centro da Amadora, por onde passo frequentemente para aceder a outros locais. Paro várias vezes nos parques e esplanadas onde me encontro com amigos.
CL – O que gosta menos na Amadora?
JG – Os transportes públicos. Como não tenho carro, é muito aborrecido o facto de os autocarros circularem muito espaçados e com muitas falhas nos horários. Fazem falta melhores transportes públicos, com mais frequência e comodidades. Os autocarros, no Verão, não têm ar condicionado nem janelas que abram.
CL – Quais os seus locais preferidos no concelho da Amadora?
JG – O Parque da Boba. Foi renovado e passou a chamar-se Parque das Artes e do Desporto. Fica perto de onde moro e é um sítio que já frequento há alguns anos.
CL – Se pudesse ser Presidente da Câmara Municipal da Amadora por um dia, que decisão tomaria?
JG – É fácil dizer-se que se faria isto ou aquilo quando se está do lado de fora. É aborrecido ver carros mal-estacionados, seria preciso mais policiamento e multas para estas situações.
CL – Qual a melhor memória que tem da Amadora?
JG – Infelizmente não tenho muito boas memórias, não tive uma vida fácil no início. Continuo a conseguir mais facilidades no que respeita ao meu trabalho fora deste concelho.