Viajar, conhecer novas realidades, experimentar outras vivências, conhecer formas diferentes de pensar, descobrir novas culturas, trocar ideias, valorizar aprendizagens, crescer para o Mundo… Tudo ferramentas indispensáveis para crescermos enquanto seres humanos mais enriquecidos e preparados para enfrentar os desafios do futuro. O intercâmbio cultural é uma das apostas mais desafiantes lançadas aos alunos pela Escola Secundária Sebastião e Silva, de Oeiras.
Desde o início do ano lectivo 2017/2018 que os alunos deste estabelecimento de ensino público participam num programa de intercâmbio com alunos da Escola nº 21 de Electrostal (Rússia), uma cidade com cerca de 160 mil habitantes situada a pouco mais de 60 quilómetros de Moscovo. Ao abrigo deste programa, os jovens portugueses deslocaram-se em 2018 à Rússia para conhecerem pessoalmente os seus colegas russos e realizarem visitas de estudo.
“Este ano, foi a nossa vez de receber uma delegação russa composta por 15 elementos, cinco alunas, sete alunos e três professoras, todos da Escola nº 21 de Electrostal”, assinala Domingos Santos, Director do Agrupamento de Escolas de S. Julião da Barra, Oeiras, e um dos principais apoiantes deste protocolo de intercâmbio assinado em 26 de Setembro de 2017. A delegação de alunos e professoras russos visitou Oeiras entre 24 e 28 de Abril, com o patrocínio e apoio da Câmara Municipal de Oeiras. Durante a estadia realizaram várias visitas de estudo, nomeadamente ao Alqueva e à Amareleja, no Alentejo, e ficaram a conhecer alguns dos locais mais emblemáticos da região de Lisboa e arredores, como Oeiras, Cascais e Sintra. E participaram ainda numa sessão científica dedicada às ondas gravitacionais, que decorreu na Escola Secundária Sebastião e Silva e que contou com a presença do Secretário de Estado da Educação, João Costa.
O Correio da Linha (CL) – Como surgiu a ideia de lançar este programa de intercâmbio com uma escola russa?
Domingos Santos (DS) – Os intercâmbios são muito importantes para a formação dos alunos, porque lhes permitem conhecer e interagir com outros estudantes e com contextos de aprendizagem diferentes, o que lhes abre horizontes, os faz sair de uma escola que não pode ser fechada e os potencia para comprometimentos e causas que hão-de fazer deles cidadãos do Mundo. Por estas razões, o Agrupamento de Escolas de São Julião da Barra, Oeiras, não desperdiça oportunidades. Foi, também neste caso, o que aconteceu.
UM PROJECTO QUE ESTÁ A DAR FRUTOS
CL – Porquê uma escola russa?
DS – A Escola Secundária Sebastião e Silva, que é a escola sede do Agrupamento e também a única do Agrupamento com Ensino Secundário, tem comemorado, nos últimos anos, com o envolvimento dos alunos de Física, a Semana Internacional do Espaço com várias actividades, entre as quais se tem incluído, nos últimos três anos, uma videoconferência com um astronauta.
Em 2015/2016, iniciámos esse ciclo de videoconferências com o astronauta da NASA Donald Thomas. Esta experiência correu tão bem e teve tanto impacto na formação dos alunos de Física que, no ano seguinte, quisemos repeti-la com um astronauta russo. Contactámos a Embaixada da Federação Russa em Lisboa e conseguimos assegurar que, em 2016/2017, a videoconferência se realizasse a partir do Centro de Treinos Yuri Gágarin. Esta experiência foi também um grande êxito.
No decorrer da videoconferência, no contexto das perguntas e respostas, o cosmonauta russo Salizhan Sharipov convidou os alunos da Escola Secundária Sebastião e Silva a visitar o Centro de Treinos Yuri Gágarin, centro onde os astronautas russos, americanos e europeus se preparam para as missões que realizam no Espaço a bordo da Estação Espacial Internacional, e nós aceitámos o convite.
Em conversa com o Senhor Vladimir Luizgin, da Embaixada da Rússia, vimos que a melhor forma de preparar uma viagem produtiva de alunos à Rússia era através de um intercâmbio com uma escola russa. A Embaixada da Rússia indicou‑nos a Escola nº 21 de Elektrostal, que mostrou interesse no intercâmbio. Fizemos o nosso contacto e, a partir daí, foi fácil encontrar um texto consensual para o protocolo que foi assinado em Elektrostal, no ano letivo seguinte (2017/2018), aquando da nossa visita ao Centro de Treinos Yuri Gágarin e à Escola nº 21 de Elektrostal.
O protocolo de intercâmbio foi assinado para oito anos e prevê, além dos contactos à distância, com recurso às novas tecnologias, uma deslocação anual de alunos, um ano a Elektrostal e, no ano seguinte, a Oeiras.
CL – Como têm reagido os estudantes e as suas famílias a este programa? Qual a resposta que têm dado?
DS – Muito bem. Todos acham que ele traz mais valias para a formação dos nossos alunos.
CL – Quem financia as viagens? As famílias dos alunos, na totalidade, ou têm algum tipo de apoio?
DS – As despesas da deslocação correm por conta da parte que se desloca. Quem subsidiou a nossa deslocação à Rússia foi a Câmara Municipal de Oeiras. Quem pagou as viagens aos alunos russos foi o Município de Elektrostal e o Estado russo. As despesas feitas durante a estadia correm por conta de quem recebe, que também organiza o programa da visita, que deve possibilitar o convívio entre estudantes dos dois países e o enriquecimento humano e científico de quem visita e de quem recebe.
BOAS NOTAS DÃO DIREITO A CONHECER MUNDO
CL – Quantos estudantes estão envolvidos no programa de intercâmbio, portugueses e russos?
DS – Na Escola Secundária Sebastião e Silva o intercâmbio é desenvolvido no âmbito do Clube de Ciências, no qual se podem inscrever todos os alunos do Ensino Secundário. Na nossa deslocação à Rússia, porque foi a primeira, participaram apenas três alunos e duas professoras. Os alunos foram escolhidos de entre os que, pertencendo ao clube e tendo‑se envolvido em actividades do clube, tiveram as melhores classificações no exame nacional de Física e Química.
CL – Que matérias de estudo têm desenvolvido no âmbito deste intercâmbio?
DS – Matérias relacionadas com Física Moderna.
CL – Que locais visitaram os alunos portugueses aquando da deslocação à Rússia?
DS – Na nossa deslocação à Rússia, visitámos a Escola Nº 21 de Elektrostal, uma fábrica de combustível nuclear e o Centro de Treinos Yuri Gágarin.
CL – Onde ficaram alojados os alunos e professoras?
DS – Em hotel.
CL – Onde ficaram alojados os 12 estudantes e três professoras russos?
DS – Na deslocação a Portugal, os estudantes russos ficaram instalados em casas de alunos da Escola Secundária Sebastião e Silva, o que lhes permitiu conhecer melhor as nossas formas de viver. As professoras ficaram alojadas num hotel.
SESSÃO CIENTÍFICA DEDICADA ÀS ONDAS GRAVITACIONAIS
CL – Que visitas fizeram os estudantes russos em Portugal?
DS – No programa comum, todos os alunos russos foram ao Oceanário de Lisboa e ao Pavilhão do Conhecimento, ao Mosteiro dos Jerónimos, ao Parque dos Poetas (Oeiras), visitaram a Central Hidroeléctrica do Alqueva, a Central Fotovoltaica da Amareleja, o Cabo da Roca, Oeiras, Sintra, Cascais, Lisboa e o Palácio do Marquês de Pombal. Com as famílias de acolhimento, ou seja, com as famílias dos alunos que os acolheram, cada um dos alunos russos foi a sítios diferentes, conforme o programa de acolhimento de cada família.
Integrada no programa de recepção aos nossos colegas russos, realizámos na Escola Secundária Sebastião e Silva uma sessão científica dedicada às ondas gravitacionais, sessão que incluiu duas apresentações em Inglês sobre o tema, feitas por professores e investigadores do Instituto Superior Técnico, e uma videoconferência feita a partir dos Estados Unidos da América, do LIGO (The Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory / Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser), laboratório onde se comprovou experimentalmente pela primeira vez, em 2015, a existência das ondas gravitacionais previstas por Einstein na sua Teoria da Relatividade, o que valeu, em 2017, o Prémio Nobel da Física a três investigadores do laboratório.
CL – Os alunos russos e portugueses falam entre eles em que língua? Têm tradutores de ambos os lados?
DS – Tivemos alguns tradutores da Embaixada, da Associação Chance+ e de uma aluna russa que está na Escola Secundária Sebastião e Silva há um ano ao abrigo do Programa AFS – Estudar no Estrangeiro, mas a maior parte das vezes os alunos falavam entre si em Inglês.
CL – Os alunos portugueses têm aprendido russo e os alunos russos têm aprendido português?
DS – Notou-se um esforço grande dos alunos russos em aprenderem o Português, não tanto o contrário.
CL – Qual é, para si, o factor de maior importância na realização deste tipo de intercâmbios?
DS – O envolvimento dos alunos em torno de projectos ou causas e a existência de professores com visão, disponibilidade e paixão, como é o caso da professora Cristina Pinho, e apoio de parceiros, como é o caso da Câmara Municipal de Oeiras e da Embaixada da Rússia. A principal vantagem é que os estudantes crescem mais para o Mundo.
CL – Próximas iniciativas a realizar no âmbito deste programa de intercâmbio?
DS – Há novos alunos a entrar já no clube (outros estão a sair, porque acabam o 12º ano) e já está em marcha a preparação do Plano Anual de Actividades para 2019/2020, no qual se insere a segunda deslocação de alunos da Escola Secundária Sebastião e Silva à Rússia, provavelmente em Maio de 2020.